Rollins de excepção

Sonny Rollins e o seu trio captados, ao vivo, num absoluto pico de forma, durante a digressão europeia de 1959.

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Um blueprint para o trio de sax, contrabaixo e bateria no jazz

Em Março de 1959, o saxofonista norte-americano Sonny Rollins era já uma estrela do jazz. Para trás ficavam clássicos absolutos como Saxophone Colossus, Way Out West, Freedom Suite ou os registos ao vivo da sua passagem pelo mítico Village Vanguard. No entanto, apesar de todas estas extraordinárias realizações musicais, era um homem insatisfeito e frustrado com aquilo que dizia serem as suas “limitações musicais”.

Decidido a parar por algum tempo, parte para uma última digressão na Europa acompanhado pela extraordinária secção rítmica formada por Henry Grimes no contrabaixo e Pete La Roca na bateria. Neste Live in Europe 1959Complete Recordings encontram-se reunidas a totalidade das gravações conhecidas desta digressão, incluindo o celebrado concerto de Estocolmo, já disponível numa edição da label Dragon, para além de uma gravação inédita registada em Frankfurt e o registo das passagens por Zurique, Laren (Holanda) e Aix-En-Provence (França).

Em duas das ocasiões Pete La Roca é substituido por Joe Harris e Kenny Clarke, também eles bateristas, na altura a viver na Europa. O som, melhorado para esta edição de três CD, transmite a absoluta magia do trio de Rollins, projectando forte e claro o som robusto do saxofonista e equilibrando de forma adequada o triângulo de comunicação telepática formado por sax, contrabaixo e bateria. É impressionante testemunhar a imaginação de Rollins em versões vibrantes de St Thomas, There Will Never Be Another You, How High The Moon, Oleo ou It Don’t Mean A Thing, tocadas pelo trio com enorme pujança mas nunca “à força”, associando subtileza poética a fragmentos discursivos de alto impacto.

Algumas semanas após regressar aos Estados Unidos, Rollins afastar-se-ia dos palcos por um período sabático de cerca de três anos, deslocando-se diáriamente à ponte de Williamsburg para practicar e regressando depois com o aclamado The Bridge. Live in Europe 1959 — Complete Recordings afirma-se como um blueprint para o trio de sax, contrabaixo e bateria no jazz, e entra directo para a discografia de referência de Rollins.

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