Quem são os hortelões de Lisboa?

A idade avançada e as baixas habilitações escolares são características comuns

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oxana ianin

Lisboa tem hoje 11 parques hortícolas municipais, número que deverá subir para 17 até ao final do próximo ano. Mas quem são os hortelões que os cultivam? Qual é o seu perfil sócio-económico e que motivações têm?

Isabel Rodrigo, docente do Instituto Superior de Agronomia, realizou inquéritos a 162 dos 270 hortelões da Quinta da Granja e do Vale de Chelas e concluiu que eles “são sobretudo idosos”, com “baixas habilitações escolares”.

Segundo a docente, 68% dos inquiridos têm 60 ou mais anos, e 60% têm quatro anos de escolaridade ou menos. Mais de metade deles, 57%, estão reformados e 19% estão desempregados. Isabel Rodrigo encontrou “fortes ligações à actividade agrícola e rural”, tendo concluído que 61% dos hortelões inquiridos são filhos de agricultores.

E quais são as suas motivações? Querer ocupar o tempo livre é aquela que mais vezes foi referida, tendo 54% dos inquiridos respondido que vão todos os dias à horta. Fazer algo produtivo é outra motivação, verificando-se que o auto-consumo é o “destino privilegiado” das colheitas, sendo a sua venda um “destino marginal”.

Também referidas como motivações foram a melhoria da qualidade da dieta alimentar e a melhoria do bem-estar físico e mental. A esse nível, constatou-se que 56% dos hortelões passaram a consumir produtos hortícolas que desconheciam antes de se dedicarem ao seu cultivo e que 30% passaram a consumir maiores quantidades desses alimentos. 

Segundo Isabel Rodrigo, 61% dos inquiridos vêem as hortas que cultivam como uma forma de embelezar a cidade, havendo também quem encontre nelas uma maneira de promover o convívio entre idosos.

As hortas na cidade, conclui a docente durante um seminário que se realizou esta sexta-feira no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, são mecanismos de “participação cívica, inclusão social e democracia”. Já o presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, André Caldas, considera que estas “representam, do ponto de vista da cidadania, um contributo de enorme qualidade e maturidade”.

O autarca socialista lembrou que “as hortas urbanas sempre foram características de Alvalade”, desde o tempo em que o arquitecto Faria da Costa projectou o bairro, e defendeu a importância de elas retomarem a “pujança” de outros tempos, ocupando espaços que entretanto foram votados ao abandono.   

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