As mulheres de Helmut Newton estão em Veneza

Exposição na ilha da Giudecca mostra trabalhos de três livros publicados nas décadas de 1970-80.

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HELMUT NEWTON ESTATE

A partir do final de Maio, a ilha veneziana da Giudecca vai acolher uma exposição relativa à obra de Álvaro Siza, a marcar a representação portuguesa na Bienal de Arquitectura da cidade italiana, que simultaneamente verá retomado um seu projecto de habitação social feito já na década de 1980, e que entretanto ficou pelo caminho. Nessa altura – e mesmo já agora, e até ao dia 7 de Agosto –, os visitantes também interessados pela fotografia poderão visitar uma exposição de fotografia de Helmut Newton (1920-2004), o alemão que ficou famoso pelas suas imagens de mulheres nuas, entre o erotismo e a ironia, o fetichismo e a ilusão.

Quase nada relaciona as duas exposições, como se pode imaginar, a não ser a coincidência geográfica e temporal, mas também a aposição de uma assinatura, de uma perspectiva, de um olhar sobre o mundo…

No caso da fotografia de Helmut Newton, a exposição está patente na Casa dei Tre Oci, numa iniciativa conjunta das fundações de Veneza e Helmut Newton de Berlim, terra natal do artista. Reúne 200 imagens, retiradas de três livros publicados nas décadas de 1970-80; respectivamente Mulheres Brancas (1976), Noites de Insónia (1978) e Grandes Nus (1981) – títulos que fazem, de resto, o nome da exposição, por extenso.

Os comissários são Matthias Harder, conservador da Fundação Newton, e Denis Curti, director artístico da Civita Tre Venezie e da instituição que acolhe a exposição. Recordando a polémica que por várias vezes acompanhou o trabalho de Helmut Newton, nomeadamente as acusações de machismo e utilização abusiva da imagem da mulher, Denis Curti fez questão de assinalar, em declarações ao jornal El País, que, ao contrário, ele foi o primeiro fotógrafo “interessado em libertar a mulher da cozinha e do quarto de passar a ferro: assumiu muitas responsabilidades e decidiu olhar o mundo a partir de um ponto de vista muito preciso, muitas vezes incómodo”.

Erotismo e ironia são, de resto, as principais marcas da obra longa de Helmut Newton, e Denis Curti lembra a importância da passagem do fotógrafo, após o fim da II Guerra Mundial – que o obrigou a fugir da Alemanha e a radicar-se na Austrália, com uma estadia em Singapura –, pela revista Playboy. “Para os fotógrafos, a Playboy era um laboratório de experimentação e isso marcou-o profundamente: faz um erotismo que não é nem vulgar nem pornográfico. Joga sempre com o que mostra e o que sugere.”

Nos seus três capítulos, a exposição Helmut Newton, fotografias: Mulheres brancas, noites de insónia, grandes nus permite percorrer, a cores e a preto-e-branco, três etapas da obra do autor, desde a introdução da fotografia do nu feminino na moda até às imagens de grande formato, passando pelos retratos.

E Denis Curti acrescenta que “quem pensa que Helmut Newton fotografa as mulheres como objectos está completamente enganado”, vendo na sua obra, antes, “uma grande homenagem” ao feminino, com um erotismo simultaneamente feliniano e ingénuo.

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