Perante cenário de derrota no Congresso, Dilma recorre ao Supremo para travar impeachment

Deputados já celebram derrota de Dilma. Lula promete entrar em campanha permanente contra a destituição e não sair das ruas.

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Dilma Rousseff: "Se eu perder, sou carta fora do baralho”. Evaristo Sá/AFP

A procuradoria-geral do Estado, que defende o Governo brasileiro na justiça, anunciou esta quinta-feira que entrou com uma acção no Supremo Tribunal Federal para anular o processo de impeachment (destituição) em curso no Congresso contra a Presidente Dilma Rousseff. O recurso é um sinal de que o Governo já não acredita que uma vitória é possível no Congresso, depois de perder o apoio de vários partidos da sua base aliada: PMDB, PRB, PP, PSD e PTB anunciaram que vão votar maioritariamente a favor do impeachment. Numa entrevista colectiva com jornalistas brasileiros, Dilma Rousseff admitiu: “Se eu perder, sou carta fora do baralho”.

A Câmara dos Deputados começa esta sexta-feira a analisar e discutir a instauração de um processo de impeachment contra Dilma Rousseff que culminará com uma votação decisiva no domingo, mas as celebrações da sua derrota já começaram no Congresso. Na quarta-feira à tarde, os líderes da oposição anunciaram perante jornalistas e câmaras de televisão que já contabilizavam 349 votos, mais sete do que o mínimo necessário para aprovar o processo de impeachment. “Vamos para uma vitória esmagadora, redentora! E a tendência é de alta, mais votos podem vir até domingo”, comemorou o deputado Mendonça Filho, do partido de direita DEM. Os deputados à sua volta formaram um “I” de impeachment com o dedo indicador e uma chuva de confetti com o formato da bandeira do Brasil foi lançada na sala. Segundo a Folha de S. Paulo, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e os seus aliados adoptaram uma nova forma de despedida no final das reuniões, quase todas para discutir o afastamento da Presidente: “Feliz impeachment para você”.

Na sua entrevista, Dilma adiantou que, se o impeachment não for aprovado no domingo, o seu primeiro acto pós-votação na Câmara será propor “um pacto, uma nova repactuação entre todas as forças políticas, sem vencidos e sem vencedores”. Mas não explicou como vai conseguir reconquistar uma oposição e um Congresso que lhe declararam guerra e que a vêem como uma figura enfraquecida e impopular sob o pano de fundo de uma crise económica.

A julgar pelo seu timing, as declarações de Dilma parecem ser uma tentativa de não ficar atrás do seu vice-presidente, Michel Temer, do PMDB, que já não faz questão de esconder que está a contar com o impeachment e que se está a preparar para substituí-la no cargo. Temer, que tem procurado afirmar-se como um conciliador que vai reunificar um país dividido, disse há dias que pretende formar “um governo de salvação nacional” em conjunto com todos os partidos políticos.

Para o senador Aécio Neves, presidente do PSDB e rival de Dilma nas últimas eleições presidenciais, a proposta da Presidente “lamentavelmente chega muito tarde”. “Esse pacto vai ocorrer sem a presença dela na Presidência da República. Ela virou um problema. Vamos fazer um pacto em torno de uma agenda de reformas urgentíssima a ser aprovada no Congresso Nacional para retomar o crescimento e acabar com o desemprego avassalador. Esse Governo que nos mergulhou na maior crise da nossa História não tem autoridade para nos tirar dela”, disse.

A ideia de um grande pacto nacional “soa bem, mas tem tudo para ser a primeira promessa descumprida por quem vencer a votação na Câmara”, escrevia esta quinta-feira o colunista da Folha Bernardo Mello Franco. “A razão é simples: a sociedade e as forças políticas acordarão mais divididas na segunda-feira.”

Se permanecer no cargo, Dilma terá a maioria do Congresso contra ela, e dificilmente conseguirá aprovar projectos e implementar políticas. Por outro lado, Temer poderá começar uma nova gestão com maioria no Congresso, mas terá de enfrentar uma “oposição aguerrida, liderada pelo PT”, partido do Governo, e “amplificada por sindicatos e movimentos sociais”, escreve o analista da Folha.

O ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem trabalhado intensamente para travar o impeachment, quer através da mobilização popular quer nos bastidores da política em Brasília, promete entrar em campanha permanente e não sair mais das ruas, segundo a Folha. Ele terá avisado o seu núcleo mais próximo de que não pretende dar tréguas a um eventual governo liderado por Michel Temer e que irá manter a base social do PT mobilizada contra o que considera um “governo ilegítimo”.

Temer já começa a esboçar a organização do seu eventual governo e os nomes de possíveis ministros começam a surgir na imprensa. Depois da divulgação de um discurso, no início da semana, em que o vice-presidente apresentava alguns dos seus planos de governo – procurando atrair a classe empresarial, ao mesmo tempo que prometia manter os programas sociais destinados à população mais pobre –, a sua “campanha” prossegue na imprensa brasileira, com os seus emissários a revelarem mais “ideias” e propostas, como a redução da máquina do Governo para 20 ministérios, em vez dos actuais 31. O Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente em Brasília, tornou-se nos últimos dias ponto de romaria de deputados. “Teve até congestionamento para entrar, uma loucura. Parecia que tinham combinado fazer um comício lá”, contou o deputado José Priante, do PMDB, ao Estado de S. Paulo, depois de ter visitado Temer na terça-feira.

 

 

 

 

 

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