Governo quer nomear novo CEME no Conselho de Ministros de quinta-feira

Prazo de substituição é de 30 dias, mas executivo quer travar polémica.

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Azeredo Lopes tem sido criticado pela oposição e oficiais das Forças Armadas Daniel Rocha

Está prevista para o Conselho de Ministros desta quinta-feira a nomeação do novo Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), em substituição do general Carlos Jerónimo, que se demitiu do cargo invocando razões de ordem pessoal. Num curto período de uma semana, o antigo CEME anunciou a sua demissão a 7 de Abril, seria assim recomposta a hierarquia de topo do Exército, bem antes do prazo de 30 dias legalmente previsto.

A demissão do general Carlos Jerónimo, motivada pela reacção ministerial de Azeredo Lopes às declarações do subdirector do Colégio Militar, tenente-coronel António Grilo, sobre a exclusão daquele estabelecimento de ensino de alunos homossexuais, está na origem do primeiro choque do actual ministro da Defesa Nacional com as chefias militares sob a sua tutela. O ministro pediu publicamente esclarecimentos sobre a situação ao CEME, o que desagradou aos altos-comandos.

Para suceder ao anterior Chefe do Estado-Maior do Exército são, à partida, apontados quatro nomes. Os oficiais José Carlos Calçada, de Cavalaria, Fernando Serafino e Faria de Menezes, ambos de Infantaria, e Rovisco Duarte, de Artilharia.

“Não houve diálogo suficiente entre o ministro e o Chefe do Estado-Maior do Exército”. Esta é a versão é apresentada como conclusiva por vários militares com experiência de cargos de chefia na hierarquia - ouvidos pelo PÚBLICO, que requereram o anonimato  - que se revêem nos argumentos da tomada de posição da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA).

“É lamentável que o Ministério da Defesa Nacional não tivesse conseguido avaliar, previamente, o enquadramento e a contextualização da situação, e não privilegiasse a respectiva análise com as chefias militares competentes através dos canais próprios existentes para o efeito”, critica o comunicado da AOFA. Neste ponto, o PÚBLICO apurou que houve uma conversa telefónica entre o ministro e o general Carlos Jerónimo.  

“O ministro tem toda a legitimidade para dar indicações, mas tal não lhe confere o direito a uma postura de humilhação de um chefe militar”, destaca, ao PÚBLICO, o presidente daquela associação, coronel Pereira Cracel: “O ministro, que é soberano, foi, no mínimo, pouco hábil na forma como actuou.”

No pano de fundo desta situação, está o efeito cascata de declarações ao diário digital Observador do subdirector do Colégio Militar, tenente-coronel António Grilo. O responsável do colégio admitiu ser hábito falar com os encarregados de educação dos educandos em situações de afectos [homossexuais] “para que percebem que o filho acabou de perder espaço de convivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades no relacionamento com os pares, porque é o que se verifica, são excluídos”.

O teor destas observações provocou perplexidade na sociedade e o pedido de esclarecimento público do ministro suscitou reparos dos meios castrenses. “Tudo foi mal tratado, quer as declarações públicas quer o relacionamento do ministério com o CEME”, admite, ao PÚBLICO, um deputado socialista que pede o anonimato.

“Há uma onda de solidariedade no Exército para como general Jerónimo”, refere o deputado Pedro Roque, do PSD. “Há um grande descontentamento, razão pela qual pedimos esclarecimentos ao ministro no Parlamento”, adianta, ao PÚBLICO. O parlamentar considera que este episódio pôs em causa a hierarquia do próprio Exército, mas é cauto: “Não estamos a pedir a demissão do ministro da Defesa Nacional.”

No entanto, os socialistas consideraram "patéticos" os argumentos do PSD para chamar o ministro da Defesa. "Parece-me que são patéticas. Parecem, do ponto de vista político, pouco fundamentadas e a reboque de posições públicas de várias entidades que o fazem na defesa dos seus interesses de corporação", afirmou o deputado do PS Miguel Medeiros, em declarações à Lusa. 

Para o Governo, que nega a demissão do vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, general António Pereira Agostinho, noticiada hoje por alguma imprensa, o objectivo é resolver rapidamente a questão, não esperando pelo prazo legal de 30 dias que, a decorrer, poderia inchar, ainda mais, a situação.

Os meios militares contactados pelo PÚBLICO não deixam, contudo, de anotar a reacção do ministro Azeredo Lopes, para eles inesperada e à revelia da diferença apregoada pelo novo executivo face à prática de José Pedro Aguiar-Branco. 

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