Ministro da Defesa acusado de “desconsideração” pelas Forças Armadas

Azeredo Lopes está no centro das críticas da Associação de Oficiais das Forças Armadas.

Foto
Azeredo Lopes foi ouvido no Parlamento esta terça-feira Fernando Veludo/NFactos

O caso do Colégio Militar, que levou à demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército, Carlos Jerónimo, na passada quinta-feira, ainda mexe. Agora, é a Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) que vem lamentar o comportamento do Ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, ao ter demonstrado uma atitude que desconsidera as chefias militares.

O presidente da AOFA, coronel Manuel Pereira Cracel, criticou em comunicado a forma como o ministro da Defesa geriu o impacto das declarações do subdirector do Colégio Militar, o Tenente Coronel António José Grilo, que admitiu que os alunos homossexuais são excluídos.

“É lamentável que o MDN não tivesse conseguido avaliar, previamente, o enquadramento e a contextualização da situação, e não privilegiasse a respectiva análise com as Chefias Militares competentes através dos canais próprios existentes para o efeito”, lê-se no comunicado. O presidente da AOFA considera que “ao invés”, o ministro “optou por uma atitude que se traduziu na desconsideração pública das Forças Armadas em geral, e do Exército, em particular, pela forma e pelo modo como se referiu aos factos”.

Na sequência das declarações do subdirector do Colégio Militar, o Tenente Coronel António José Grilo, o ministro fez saber que pediu explicações ao chefe de Estado Maior do Exército e considerou “absolutamente inaceitável qualquer situação de discriminação, seja por questões de orientação sexual ou quaisquer outras, conforme determinam a Constituição e a Lei”.

Para a associação de oficiais, a decisão do general Carlos Jerónimo “deve ser credora do maior respeito e da mais profunda admiração por parte dos militares”. Pereira Cracel considera mesmo que a demissão “devia servir de exemplo a todos os que detêm responsabilidades na direcção política e na cadeia de comando das Forças Armadas”.

As declarações do subdirector do Colégio Militar foram feitas ao jornal Observador, no âmbito de uma reportagem. “Nas situações de afectos [homossexuais], obviamente não podemos fazer transferência de escola. Falamos com o encarregado de educação para que percebam que o filho acabou de perder espaço de convivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares. Porque é o que se verifica. São excluídos”, afirmou então o Tenente Coronel.

A Associação de Oficiais qualificou o episódio como “infeliz” em que o sentido das declarações do subdirector do Colégio Militar “não foi aquele que manipuladoramente lhe foi atribuído”. 

Não foi a única crítica à forma como o ministro geriu este processo. O coronel Carlos Matos Gomes escreveu, na sua página no Facebook, que o ministro, ao pedir a Carlos Jerónimo para demitir o subdirector do Colégio Militar, deu uma ordem "ilegítima" e que constitui crime. Ao mesmo tempo, o Presidente da República, ao aceitar a demissão do Chefe de Estado Maior do Exército por recusar uma ordem "ilegítima", "viola" a Constituição.

O pedido do BE para ouvir a direcção do Colégio Militar no Parlamento, a propósito deste caso, será votado na próxima quinta-feira, na subcomissão de Igualdade.  

Sugerir correcção
Ler 6 comentários