Preço do dólar atinge novos máximos nas ruas de Luanda

Para comprar um dólar são precisos entre 400 e 450 kwanzas. Nos bancos é muito mais barato, mas as as compras são praticamente impossíveis.

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O kwanza já desvalorizou de 40% no espaço de um ano Manuel Roberto

O dólar norte-americano ultrapassou a barreira dos 450 kwanzas, moeda nacional angolana, nas ruas de Luanda, mercado que se tornou praticamente no único possível para aceder a divisas, devido à actual crise, também cambial.

Trata-se do valor mais alto na comercialização (venda) de dólares no mercado informal de que há memória, quase três vezes mais do que a taxa oficial, o que dificulta desde importações às viagens ao estrangeiro, tendo em conta a impossibilidade de obter divisas no mercado oficial.

Este valor verifica-se precisamente no dia em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que Angola solicitou um programa de assistência para os próximos três anos, cujos termos serão debatidos nas reuniões de Primavera, em Washington, e numa visita ao país.

Nos bancos, para comprar uma nota de dólar, são hoje precisos 161,468 kwanzas. Contudo, essa compra é virtualmente impossível para os utilizadores comuns, tendo em conta as limitações e suspensão de entrega de divisas impostas aos balcões.

Uma ronda feita nesta quarta-feira pela Lusa nas ruas de Luanda, onde dezenas de mulheres – conhecidas por “kinguilas” – se dedicam a este negócio, confirmou que para comprar cada dólar são agora precisos entre 400 e 450 kwanzas (cerca de 2,4 euros). O valor mais alto conhecido até agora tinha sido de 420 kwanzas, em 2015. Antes da crise da cotação do petróleo, cada dólar valia na rua menos de 100 kwanzas.

Trata-se de uma forte subida dos preços no mercado informal, tendo em conta os 350 kwanzas que ainda há cerca de três semanas eram pedidos por cada dólar norte-americano.

Na origem das dificuldades está a crise económica, financeira e cambial que afecta Angola, decorrente da quebra na cotação do barril de crude no mercado internacional, o que fez reduzir para menos de metade as receitas fiscais obtidas com a exportação de petróleo.

Entretanto, o kwanza já desvalorizou cerca de 40% no espaço de um ano e a inflação do país, a 12 meses, ultrapassou os 20% em Fevereiro.

O banco central começou a limitar o acesso aos dólares, restringindo o montante que disponibilizava aos bancos comerciais, em resultado da descida de mais de 65% no preço do petróleo desde Junho de 2014, o que reduziu drasticamente a disponibilidade da moeda norte-americana.

Sem dólares, os bancos comerciais começaram a limitar os levantamentos ao balcão, mesmo de contas em moeda estrangeira, tornado o mercado de rua como única alternativa.

O Ministério das Finanças de Angola justificou o pedido de um programa de assistência do FMI com a necessidade de aplicar políticas macroeconómicas e reformas estruturais que diversifiquem a economia e respondam às necessidades financeiras do país.

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