Ramón Fonseca diz-se vítima de “caça às bruxas”

Um dos fundadores da Mossack Fonseca afirma que o caso Panama Papers não resultará em nenhuma acusação judicial.

Foto
Ramón Fonseca, co-fundador da Mossack Fonseca, numa entrevista televisiva na segunda-feira AFP PHOTO / TELEMETRO PANAMA / STR

A sociedade de advogados Mossack Fonseca, no centro do escândalo Panama Papers, criou 250 mil empresas para clientes espalhados em todo o mundo. Ramón Fonseca, um dos seus fundadores, diz que está a ser vítima de “uma caça às bruxas”. O objectivo, acusa, é acabar com uma indústria legal de empresas offshore.

Numa entrevista ao Financial Times, Fonseca diz que a divulgação dos mais de 11 milhões de documentos saídos do seu escritório – que expôs uma rede ampla de empresas offshore supostamente destinadas à ocultação de riqueza, fuga ao fisco e/ou lavagem de dinheiro – foi obra de piratas informáticos. E defendeu que durante 40 anos de trabalho nunca enfrentou acusações de irregularidades. “Não espero que isto leve a um único caso na justiça”, afirmou por telefone a partir do Panamá.

Offshores: um paraíso de impostos, uma ilha para lavar dinheiro e muito mais

Ramón Fonseca garante que os seus clientes – que incluem poderosos empresários e políticos – não fizeram nada de errado. “Criar empresas não é pecado”. Pelo contrário, o direito de privacidade é que não foi respeitado com esta fuga: “O direito de privacidade é importante – toda a gente tem esse direito”, comentou ao jornal britânico. “É uma coisa que se perdeu mas é um direito humano”.

O Presidente russo, Vladimir Putin, é um dos envolvidos pelos Panama Papers. As informações retiradas dos documentos apontam para uma complexa operação montada por um círculo próximo do Presidente, que envolve empresas-fantasma constituídas em offshores – um esquema que serve para esconder o rasto de cerca de dois mil milhões de dólares que são atribuídos a Putin. Mas Fonseca garante que “há já algum tempo” que o seu escritório “desistiu” de quaisquer negócios ligados ao líder russo.

Também no comunicado que a Mossack Fonseca enviou para a Reuters é referido que não foi cometida nenhuma ilegalidade nestas quatro décadas de operações. “Nós não aconselhamos os clientes sobre como gerir o seu negócio. Não nos ligamos, de nenhuma forma, às empresas que ajudamos a criar”, diz a declaração. “Excluindo os pagamentos profissionais que nos são devidos, não ficamos com dinheiro dos clientes, nem temos nada a ver com nenhum dos aspectos financeiros envolvidos na operação destes negócios”.

A Mossack Fonseca adianta ainda apoiar todas as iniciativas internacionais a favor da transparência e que essas medidas são incluídas nas suas próprias metodologias.

Em todo o caso, e no meio de 250 mil empresas que foram até agora criadas pela mão da Mossack Fonseca, “aceitamos que, estatisticamente, algumas deveriam ter problemas”, mas que a qualquer sinal disso, o escritório retirava-se do negócio, afirmou o seu fundador.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários