“O Banif foi virado e revirado do avesso”, diz Luís Amado

Antigo presidente não executivo do banco acusa o Banco de Portugal por "demorar a reagir".

Na comissão parlamentar de inquérito à nacionalização (em 2012) e à medida de resolução e venda do Banif, o deputado comunista Paulo Sá quis saber se o Banco de Portugal (BdP) e o Ministério das Finanças acompanharam todo o processo. Luís Amado, antigo presidente não executivo da instituição, que está a ser ouvido nesta quarta-feira na Assembleia da República, explicou que “o Banif foi virado e revirado do avesso neste período". “A situação de insolvência precipitada que a notícia [TVI] provocou não pode ser escamoteada”, defende o ex-chairman, pois está na origem, nos dias seguintes, de levantamentos de depósitos de quase 960 milhões. 

O governo de António Costa "apoiou o banco", já o BdP "demorou a reagir”, sublinhou Amado, partilhando assim da versão reportada, na véspera, por Jorge Tomé aos deputados. 

Em resposta a Luís Marques Guedes, ex-ministro da presidência e do Conselho de Ministros de Pedro Passos Coelho, Amado explicou que a ausência “de solidez e coesão" entre o BdP, as Finanças e a gestão do Banif nas vésperas da resolução se revelaram negativas: estas “divergências entre os vários responsáveis precipitaram os acontecimentos e abalaram a confiança no banco”. E, perante o vazio político, “é óbvio que o império burocrático europeu impôs as suas regras.”

A "pressão das instâncias europeias sobre as instituições nacionais é muito forte", diz Amado, para quem este processo deve servir de lição aos governantes na relação do Estado português com as entidades europeias. "A falta de coesão entre as entidades nacionais" e o facto de o problema "não ter sido tratado politicamente", abriu a porta a que o destino do banco fosse decidido pelos técnicos europeus. Amado considera inadmissível que "um banco que era do Estado, que tem como principal accionista o Estado, e a que o Estado atribuía importância, pela relação com as ilhas", fosse decidido por técnicos em Bruxelas. 

Hoje, verifica-se "um choque entre a visão europeia, protagonizada pelos técnicos e chefes das instituições, que é muito limitada" e os interesses do Estado que devem ser dirimidos politicamente, defende. E evidencia que na UE o poder é partilhado e os Estados devem saber defender os seus interesses sem complexos. 

A partir da notícia da TVI, de 13 de Dezembro, dando o fecho do Banif como iminente, ocorreu "a tempestade perfeita", para a qual contribuiu "um vazio politico no período de transição entre governos que impediu que os responsáveis políticos tomassem decisões, o que se tornou evidente entre Novembro e Dezembro". Uma situação que, no entender de Amado, que respondia ao deputado do PS, Carlos Pereira, "satisfez a burocracia europeia" que forçou a solução de resolução pois "queria ir para férias de Natal" com o dossier fechado.

Nas vésperas da resolução do Banif, e no contexto iminente da perda de estatuto de contraparte, Amado diz que chegou a "admitir que pudesse haver uma nacionalização". “Até o governador do BdP me disse que tinha dificuldade em resolver um banco que era do Estado", afirmou.

Mas era difícil pelo "quadro chantagista" em que se movia "a Comissão Europeia que tinha um figurino bancário para a Península Ibérica" que implicava a absorção de bancos portugueses por bancos espanhóis. O Banif acabou por ser entregue ao Santander. O ex-presidente do Banif salienta que "é evidente que a resolução seria sempre um melhor cenário de que a liquidação.

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