TPC, de Carcavelos à Finlândia

É o último dia de aulas antes das duas semanas das férias da Páscoa. Uma criança de sete anos, que está no 2º ano, chega a casa com um recado do professor colado na caderneta do aluno. O recado diz: “Tpc para interrupção lectiva de 18/03 a 4/04: – Lê um livro que gostes e faz o seu reconto. – Realiza duas composições sobre temas à tua escolha (10 linhas no mínimo). – Estudar e fazer as tabuadas. – Fazer as fichas de adição, subtracção e multiplicação. – Escrever os resultados das subtracções por ordens e por extenso (só a subtracção). – Escrever os meses do ano e os dias da semana.”

Para quem acha que isto é demasiado trabalho para um aluno do 1.º ciclo, então é porque ainda não conhece casos como aquele que nos é contado pela Rita Pereira, cuja filha de seis anos levou para férias 16 folhas de fichas de Português, Estudo do Meio e Matemática. Ou ainda a filha de Maria João Calvário, que tem sete anos e chegou a casa com “28 folhas de fichas para fazer”.

O debate não é novo e já levou a que em alguns países como a França, Espanha ou Finlândia se tivessem banido os TPC. Mesmo em Portugal, no agrupamento escolar de Carcavelos os TPC também já passaram a fazer parte dos manuais de história.

Há muito que são esgrimidos argumentos sobre a utilidade dos TPC. Os que os defendem dizem que ajudam a assimilar conhecimentos, falam numa correlação positiva entre os TPC e os bons resultados (existem dados da OCDE, mas para alunos de 15 anos) e argumentam que os trabalhos para casa servem de ligação entre professores e encarregados de educação. Argumentam também que ajudam a criar rotinas e uma cultura de trabalho. Do outro lado estão os que acham que os TPC acabam por ser contraproducentes por estarem associados a uma obrigação, quase um castigo, e que os alunos ficam sem tempo para brincar. E já há investigação sobre o tema que mostra que este tipo de trabalho de casa "de repetição" não é o que contribui para um maior rendimento escolar.

Não havendo estudos que dêem respaldo total a uma ou outra tese, o melhor nestas coisas é deixar o bom senso funcionar. Deixar as filhas da Rita ou da Maria 15 dias sem qualquer contacto com o que aprenderam talvez não seja aconselhável. Mas 28 folhas de fichas para fazer nas férias da Páscoa para alunos do 1.º ciclo também é capaz de ser um grande disparate.

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