Prisões em Paris e Bruxelas começam a desfazer a teia terrorista

Uma grande operação policial na Bélgica levou a múltiplas detenções de suspeitos. Acções foram desencadeadas pela prisão, em Paris, de um recrutador de jihadistas para a Síria e a descoberta de um arsenal pronto para um novo ataque na capital francesa.

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Schaerbeek foi o palco da maior operação antiterrorista PATRIK STOLLARZ/AFP

A prisão nos arredores de Paris de Reda Kriket, um homem de 34 anos que as autoridades dizem que estava a preparar um novo atentado em França, em fase de planeamento já muito avançada, desencadeou uma grande operação policial esta sexta-feira em Bruxelas, no bairro de Schaerbeek, onde foi detido e ferido outro suspeito.

O suspeito foi detido numa paragem de autocarros, depois de não responder positivamente às ordens da polícia. Tinha uma mala que alguns media belgas dizem que poderia conter explosivos – ou pelo menos havia esse receio. A brigada de minas e armadilhas tem estado no bairro de Schaerbeek, onde se ouviram várias explosões. Trata-se de detonações controladas, explicou à AFP o burgomestre deste bairro de classe média no Norte de Bruxelas. Nesta sexta-feira ouviram-se pelo menos três.

Os irmãos bombistas-suicidas que realizaram os atentados de terça-feira em Bruxelas – Ibrahim e Khalid El Bakraoui – viveram numa casa neste bairro durante dois meses. Na morada onde um taxista os foi buscar, no dia do atentado, a polícia descobriu 15 quilos de explosivos do tipo TATP, 150 litros de acetona, detonadores e uma mala cheia de pregos e parafusos, bem como outros ingredientes usados para produzir bombas. É uma enorme quantidade de explosivos: bastam quatro quilos de TATP para fazer uma bomba tão devastadora como as que foram usadas em Bruxelas, disse à Reuters Ehud Keinan, um cientista israelita que estudou este material durante 35 anos.

No balanço final desta sexta-feira, tinham sido detidas pelo menos seis pessoas – embora três tivessem sido libertadas –, nas zonas de Forest e Saint-Gilles, e tinha sido lançado um alerta sobre uma outra, Naim Al Hamed, um sírio que entrou na Europa com refugiados através da ilha grega de Leros, uma das mais pequenas, onde há menos controlos, a 20 de Setembro. O Le Monde diz que poderá ser "o homem de chapéu" ainda não identificado, que acompanhava os bombistas-suicidas do aeroporto de Zaventem.

Sabe-se que Salah Abdeslam, o terrorista que não se fez explodir nos atentados de 13 de Novembro em Paris, e que agora foi capturado, foi visitar Naim Al Hamed à Alemanha, a 2 de Outubro de 2015, diz ainda o diário francês. E o ADN correspondente a este homem, que a polícia belga descreve como “muito perigoso e susceptível de estar armado”, foi detectado no apartamento da rua Max Roos, em Schaerbeek, de onde partiram de táxi os três homens apanhados nas câmaras de vigilância do aeroporto.

Outros media belgas apontam para um dos detidos, Fayçal Cheffou, como o possível homem do chapéu. Foi preso quinta-feira ao pé da Procuradoria Federal e não está a colaborar com a justiça – ou seja, não quer falar.

Najim Laachraoui, o ex-estudante de engenharia que terá produzido os explosivos usados nos atentados de Paris e Bruxelas, foi por outro lado identificado definitivamente como um dos bombistas-suicidas do aeroporto. O seu ADN foi detectado num pedaço de tecido de um dos coletes explosivos usados pelos bombistas da sala de espectáculos Bataclan e outro do Estádio de França.

A importância de Kriket

Esta sexta-feira, o grupo Estado Islâmico reivindicou os ataques em Bruxelas pela primeira vez em vídeo, divulgando vários na Internet, alguns deles com combatentes radicais belgas felicitando-se pelo massacre. Num dos vídeos, é feita uma ameaça a Londres, diz o SITE, um grupo especializado na análise de ameaça jihadista.

Não se sabe o que conduziu a investigação até Argenteuil, nos arredores de Paris, e à prisão de Reda Kriket. Mas a descoberta deste próximo de Abdelhamid Abaaoud, o cabecilha dos atentados de Novembro em Paris –  morto pela polícia em Saint-Denis, numa grande operação policial, dias depois – foi um grande avanço.

Tinha um grande arsenal em casa, com explosivos e armas, que incluíam metralhadoras kalachnikov, carregadores de AK-44, sete pistolas, inúmeras munições, e grande quantidade de material eléctrico e químico, que se julga poder servir para fabricar explosivos.

Mas Reda Kriket é bem conhecido da justiça francesa e belga: foi condenado à revelia, em Bruxelas, em Julho de 2015, juntamente com Abdelhamid Abaaoud, num vasto processo judicial contra pessoas que estiveram ligadas (organizadores e voluntários) a uma rota que levava jihadistas para a Síria, disseram esta sexta-feira fontes policiais citadas pela AFP.

No processo em que foi julgado à revelia, Kriket — que o jornal Le Monde diz ser mais um na "galáxia jihadista" franco-belga — foi condenado a dez anos de prisão. Abaaoud foi condenado no mesmo julgamento (e também à revelia) a 20 anos de prisão. 

No total, 28 pessoas foram condenadas no dia 29 de Julho de 2015, no processo relativo a uma rede jihadista dirigida pelo pregador Khalid Zerkani, um bruxelense de 42 anos que actualmente está na prisão e conhecido pelos seus seguidores como Papa Noel. Zerkani é descrito pela justiça belga como "o maior recrutador" de jihadistas no país. Mas muitos dos que foram então julgados nunca foram sequer capturados, apesar de haver mandados de captura contra eles.

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