Exército sírio já começou a reconquistar Palmira ao Estado Islâmico

No Iraque, o Exército dá tiro de partida para a ofensiva para reconquistar Mossul.

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Para os jihadistas, as estátuas, os templos, os animais, são blasfémias e Palmira foi amputada JOSEPH EID/AFP

Dois dias depois dos ataques de Bruxelas, foram lançadas duas grandes ofensivas para reconquistar território ao califado proclamado pelo Estado Islâmico. Os exércitos sírio e iraquiano, com a colaboração de russos e americanos, avançaram sobre a cidade histórica de Palmira e Mossul.

As forças leais ao governo de Damasco, apoiadas no solo pela milícia xiita libanesa do Hezbollah e por um comando russo, e no ar pela aviação de Moscovo, avançaram nesta quinta-feira para Palmira, no Leste da Síria.

“As forças do regime entrarem em Palmira, depois de combates com o Estado Islâmico”, disse à AFP Rami Abdel Rahman, o director do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que confirmou através de activistas no terreno a entrada em Palmira.

A batalha para recuperar a cidade histórica, tomada em Maio de 2015, já tinha começado, a 7 de Março. Mas foi preciso avançar muito lentamente no terreno devido às minas que os jihadistas plantaram nos campos que rodeiam a zona, explicou Rahman.

Junto de fontes militares, a AFP soube que “o Exército entrou pela zona noroeste, depois de ter conseguido controlar o Vale dos Túmulos”, onde se encontravam as torres funerárias da cidade da Antiguidade. Uma outra fonte disse que um comando especial russo estava no terreno a dirigir as operações e que “intervém directamente quando é necessário”.

Esta quinta-feira, o balanço era de 40 jihadistas mortos, assim como quatro soldados do Exército sírio, segundo dados recolhidos pelo Observatório, que tem sede em Londres mas reporta a guerra através das informações recebidas por uma rede de activistas na Síria.

Mal entrou em Palmira, o Estado Islâmico destruiu alguns dos vestígios arqueológicos mais importantes da cidade com dois mil anos — o Arco do Triunfo, os templos de Bêl e de Baalshamin e as torres funerárias.

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Antes do início da guerra, em 2011, as colunas, necrópole, templos e sepulturas da cidade no deserto, situada 210 quilómetros a nordeste de Damasco, eram das atracções mais procuradas pelos turistas.

Para os jihadistas, as estátuas, os templos, os animais, são blasfémias e Palmira foi amputada — primeiro desapareceram os templos, depois (Setembro) as torres funerárias e por fim o Arco do Triunfo.

Foi entre as ruínas da cidade que foi um símbolo do cruzamento de civilizações que o EI decapitou, em 18 Agosto de 2015, Khaled al-Assad, de 82 anos, que dirigiu durante 50 o Departamento de Antiguidades de Palmira.

Mal a cidade esteja completamente “libertada”, disse o director das Antiguidades sírias, Maamoun Abdelkarim, vai ser reconstruída, com supervisão da UNESCO (a agência da ONU para o património e a cultura).

No campo da política de guerra, a reconquista de Palmira permite às forças de Damasco controlarem uma auto-estrada estratégica e progredirem em direcção à região de fronteira com o Iraque, que está sob controlo dos jihadistas.

Perante a chegada das tropas, o Estado Islâmico avisou a população, através de altifalantes, que deveriam abandonar o centro da cidade (não o lugar histórico) — algumas centenas de pessoas obedeceram, afastando-se das áreas onde eram esperados combates.

Arranque da ofensiva contra Mossul

Do outro lado da fronteira — e de forma que parece concertada —, o Exército iraquiano fez avançar uma grande ofensiva sobre Mossul, apoiado pelas Unidades de Mobilização Populares, uma milícia xiita, e por elementos da coligação internacional que combate o EI, com os americanos a realizarem raides aéreos.

Esta é, porém, uma batalha mais difícil. A reconquista de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, é o mais importante objectivo do plano de reconquista de territórios perdidos para o EI, no Verão de em 2014.

As forças avançam no terreno, comendo território aos jihadistas ou tentando diminuir o autoproclamado califado, com acções concertadas entre os aliados e governos. E no plano da diplomacia, vão-se dando também alguns passos nessa estratégia mútua de combate aos jihadistas e que, na Síria, tem um objectivo maior que é acabar com a guerra.

Os chefes da diplomacia americana, John Kerry, e russa, Serguei Lavrov, reuniram-se esta quinta-feira em Moscovo; posteriormente Kerry foi recebido pelo Presidente Vladimir Putin — e o ambiente em Moscovo, diz a Reuters, foi visivelmente mais amigável do que em encontros anteriores, apesar de ainda haver uma divergência fundamental sobre a presença de Bashar al-Assad no futuro da Síria — ocorre no final de mais uma ronda de negociações de paz em Genebra, mediadas pela ONU, que já anunciou que a próxima será a 9 e 10 de Abril.

Notícia corrigida às 15h23 de 25/03/2016 Nova versão da infografia

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