Ministério Público opta por manter Fernanda Câncio como testemunha

Sofia Fava ainda não foi ouvida na Operação Marquês.

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Nuno Ferreira Santos

O Ministério Público recusou constituir como arguida a ex-namorada do antigo primeiro-ministro, Fernanda Câncio, e, até agora, optou por não ouvir no processo a ex-mulher de Sócrates, Sofia Fava. O requerimento feito em Dezembro do ano passado pelos jornalistas do Correio da Manhã pedindo a inquirição e a constituição como arguidas das duas mulheres no âmbito da Operação Marquês não teve, por isso, qualquer efeito.

Num despacho do procurador Rorário Teixeira, com data do mês passado, o Ministério Público decide manter Fernanda Câncio como testemunha, sustentando não existir “por ora e mesmo face ao recolhido após a inquirição” elementos para alterar esse estatuto.

O pedido dos jornalistas do Correio da Manhã é fundamentado com elementos que existem no processo, nomeadamente escutas telefónicas, que para o jornal permitem concluir que Fernanda Câncio “tinha um conhecimento profundo dos negócios de José Sócrates, bem como dos gastos pessoais deste e que evidenciavam a existência de avultadas quantias em dinheiro. Para comprovar isso, os jornalistas do Correio da Manhã recordam um SMS que Câncio enviara a Sócrates em Setembro de 2013. “Mas vais ver q ela volta para ti, não há assim tantos ex pm com massa e casa em Paris”, escrevia a jornalista do Diário de Notícias.

O Correio da Manhã recorre a outro SMS enviado a Sócrates por Câncio em Fevereiro de 2014, onde esta sugeria uma visita de ambos a um apartamento duplex localizado perto do Largo do Caldas, imóvel que estava para venda por 2,2 milhões de euros. “Fernanda Câncio só poderia sugerir a aquisição do referido imóvel se tivesse conhecimento directo de que José Sócrates dispunha de uma elevada capacidade financeira para o adquirir”, lê-se no requerimento. Nesse mesmo dia, em conversa telefónica, Sócrates recusa-se a visitar o apartamento argumentando que isso seria “o primeiro passo para aparecer no Correio da Manhã”. O jornal realça, no pedido, que Câncio não questionou o sentido da afirmação “o que leva a crer que está ao corrente da proveniência (ilícita) dos fundos”. Referem-se ainda as viagens caras que Câncio terá feito com Sócrates e pagas por este ou pelo amigo Carlos Santos Silva.

Em relação a Sofia Fava os argumentos apresentados pelo Correio da Manhã para pedir a sua constituição como arguida são praticamente todos relacionados com transferências e fluxos de dinheiro, originárias no empresário Carlos Santos Silva e em José Sócrates que terão permitido à ex-mulher do antigo primeiro-ministro comprar um monte em Montemor-o-Novo por 760 mil euros. Sofia Fava pediu um empréstimo para adquirir o imóvel, mas para a concessão do mesmo terá sido determinante uma garantia bancária praticamente no valor do mesmo apresentada por Santos Silva, amigo de infância do ex-primeiro-ministro.  

Contactada pelo PÚBLICO Sofia Fava recusa-se a prestar esclarecimentos sobre o caso. “Ainda não me chamaram como testemunha nem como arguida, quando o fizerem justificarei o que aconteceu”, afirma Sofia Fava, que lamenta que o processo se mantenha inacessível para si enquanto o Correio da Manhã divulga o áudio de conversa suas e dos seus filhos.

Numa acção intentada nos tribunais para proteger a sua vida privada, Fernanda Câncio afirma que "nunca esteve para comprar uma casa com José Sócrates nem, muito menos, uma quinta no Algarve (ou onde quer que fosse)" e garante que não tinha "qualquer conhecimento das relações financeiras entre Carlos Santos Silva e José Sócrates".

Neste momento, Fernanda Câncio opta por não falar dos argumentos, lembrando que para esclarecer tudo pediu ao procurador Rosário Teixeira que lhe desse acesso às escutas que a envolviam. O mesmo recusou o pedido por falta de base legal.

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