Tutorias podem ajudar a diminuir abandono no superior

Cerca de 10% dos alunos inscritos nas universidades e politécnicos não chegam a concluir licenciaturas. Associação Académica entregam ao Governo esta quinta-feira guia de boas práticas para combater problema.

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Lisboa é a região que dá aos estudantes um melhor acesso à instituição de ensino Foto: Rui Gaudêncio

A implementação de um sistema de tutorias para acompanhar os estudantes durante os primeiros anos no ensino superior pode ajudar a diminuir o problema de abandono que afecta o sector. Cerca de 10% dos alunos inscritos não chegam a concluir as licenciaturas e as associações académicas acreditam que, dessa forma, será mais fácil detectar precocemente sinais de que os alunos podem vir a desistir dos estudos. Esta é uma das medidas que consta de um documento entregue, esta quinta-feira, ao Governo, para assinalar o Dia do Estudante.

A intenção das associações académicas é que, através de um acompanhamento mais próximo dos alunos, possam ser detectadas situações de carência económica, dificuldades académicas ou de adaptação aos cursos, que são alguns dos principais factores que contribuem para o abandono escolar no ensino superior. “Hoje, as instituições têm sistemas de informação que lhes permite, por exemplo no final do 1º semestre, saber quantos alunos têm uma determinada percentagem de cadeiras por concluir ou propinas em atraso”, explica o presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Daniel Freitas.

Com base nesta informação, os directores de curso ou os responsáveis pelos programas de tutorias podiam entrar em contacto com os alunos em situação de risco, trabalhando para tentar encontrar soluções. Por exemplo, para os casos em que os alunos encontram um curso que não corresponde às expectativas com que tinham entrado no ensino superior, as associações académicas defendem a criação de gabinetes de apoio que poderão ajudar o estudante em dificuldades a encontrar soluções.

As propostas que constam do “Guia de boas práticas Combate de ao abandono escolar no Ensino Superior”, que é entregue, esta quinta-feira, à secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Maria Fernanda Rollo, são “medidas de proximidade” que, na maioria dos casos “não acrescentam um euro de custos ao orçamento das instituições”, afirma Daniel Freitas.

Os dados conhecidos sobre o abandono no ensino superior apontam para números na casa dos 10%. De acordo com o último relatório da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, relativos a 2012/13, 11,8% dos alunos de universidades públicas e 12,6% dos estudantes de politécnicos já não se encontravam no ensino superior um ano após a sua inscrição. Se a análise se centrar na situação dos estudantes candidatos a bolsas de ação social, encontram-se taxas de abandono entre os 8 e 9%. “Estaremos a falar de cerca de 30 mil estudantes por ano que desistem do ensino superior. É um número que representa bem o desperdício da situação que estamos a viver”, sublinha Freitas.

O ““Guia de boas práticas” é entregue à secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, para assinalando simbolicamente o Dia do Estudante, que se comemora esta quinta-feira. Nas próximas semanas, o documento será também apresentado às instituições de ensino superior que são quem pode implementar as medidas defendidas pelos estudantes. A tutela tem, no entanto, a possibilidade de ser “o promotor destas iniciativas”, defende o presidente da FAP, lembrando a necessidade de garantir que as universidades e institutos politécnicos tornem públicos dados fidedignos sobre o abandono escolar, mas também sobre a empregabilidade dos seus cursos, por exemplo.

Ao contrário dos anos anteriores, o Dia do Estudante não vai ser comemorado nas instituições de ensino superior no dia 24 de Março, uma vez que os alunos se encontram a gozar um período de férias que coincide com a época de Páscoa. Por isso, a data será apenas assinalada nas instituições na próxima segunda-feira, quando aos alunos regressarem às aulas, com uma campanha que terá como tema também o combate ao abandono escolar.

Na próxima segunda-feira, 29 de Março, quando regressarem às aulas, os alunos vão encontrar uma campanha de sensibilização nas instituições de ensino superior que vai cobrir de negro cadeiras de salas de aulas e de espaços de refeição ou bancos em áreas de lazer, preenchendo-os com a inscrição “O…podia estar aqui”. Em cada um desses lugares vazios no ensino superior serão contados casos exemplares de estudantes que abandonaram os estudos nos últimos anos.

Esta semana, as associações académicas lançaram também uma campanha de combate ao abandono escolar, em que vão envolver-se até ao final do ano. O programa “Não desistas” cria uma única linha de apoio a que os alunos podem recorrer sempre que estejam a passar por algum dos problemas que mais contribuem para o abandono escolar, sejam dificuldades económicas, problemas académicos ou dificuldades de adaptação ao curso ou à instituição que frequentam.

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