Olha as papoilas

Em Portugal a Primavera já começou há mais de uma quinzena.

Então bom dia, último dia de Inverno. Ou devo tratar-te por Inverno 2015/2016? É um bom truque, esse. Só ocupaste 10 dias de 2015. É sádico. Pensamos nós que é ano novo, vida nova mas a verdade é que, antes de recomeçar a vida na Primavera, faltam os dois meses de Janeiro e Fevereiro mais dois-terços do mês de Março. É um abuso.

No último New Statesman o sábio e arriscado Richard Mabey diz que vivemos o mês de Março em Fevereiro e que é agora, em Março, que Fevereiro voltou para se vingar. Diz também que a Primavera acontece quer nós a vejamos ou não, porque tem de acontecer sempre. Deus queira que essa profecia se aplique apenas na terra onde ele nasceu.

Em Portugal a Primavera já começou – tal como Mabey diz ter acontecido na Inglaterra – há mais de uma quinzena. São os melros que perdem o pudor. São as borboletas que acordam cedo de mais. Mas são, sobretudo, as papoilas: as papoilas da Primavera.

Tinha Março começado e parámos para fotografar a primeira papoila do ano. Era só uma mas não estava escondida. As papoilas, quando sobem da terra para a altura dos nossos olhos, não têm jeito nenhum para se esconderem.

Entretanto foram crescendo até se tornarem bastantes. Mas as papoilas bastantes são tão invisíveis como as inexistentes. As papoilas, segredou-me a Maria João, só se vêem quando são só uma ou duas ou quando são muitíssimas.

É verdade. As papoilas ilustram a nossa subserviência perante a lei horrenda da oferta e da procura. 

 

 

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