"Não se pode agravar o sentimento de pertencer a uma periferia"

O PÚBLICO faz a pré-publicação do prefácio do livro TAP - Caixa Negra, sobre os "bastidores" do conflito entre o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e a TAP, explicados sob o ponto de vista do autarca.

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Miguel Sousa Tavares apresenta a obra em Lisboa Enric Vives-Rubio

O prefácio é assinado por Luís Valente de Oliveira, antigo ministro e professor catedrático de engenharia da Universidade do Porto. O livro será apresentado em Serralves, terça-feira, 22 de Março (19h), por António Lobo Xavier, e em Lisboa, no dia seguinte, na Livraria Almedina do Atrium Saldanha (18h30).

"O texto que se segue é muito importante!

Começa por sê-lo quanto à justificação que dá para a necessidade imperiosa de se assegurar o maior número possível de ligações com os potenciais compradores da produção da maior região exportadora do País. O que enviamos para fora não é produzido por uma única empresa nem respeita a um só produto. É o resultado do trabalho de milhares de pequenas e médias empresas com destinos muito variados e que reclama, por isso, numerosíssimas viagens de muitos agentes que têm de assegurar contactos. É isso que se vê todos os dias, tanto no Aeroporto Francisco Sá Carneiro como em muitos outros localizados na Europa e fora dela mas, especialmente, coincidindo com hubs europeus de onde irradiam para toda a parte.

Em sentido contrário e nos meses em que abranda a actividade desses representantes das empresas vêm às suas terras de origem dezenas de milhares de emigrantes, na sua grande maioria oriundos das Regiões Norte e Centro, que são aquelas que o aeroporto de Pedras Rubras serve directamente.

Tanto num sentido como no outro, as delongas de uma ligação indirecta são sempre penalizadoras, de forma tangível ou simbólica.

Não se pode agravar o sentimento de pertencer a uma periferia que comprometa uma actividade económica ou que induza a percepção de um grande afastamento.

O texto é claro quanto aos deveres que incumbem aos governantes e aos administradores de «coisas públicas» e em relação às justificações que têm de dar a respeito das suas decisões. As manobras dilatórias, as esperanças no esquecimento dos gravames ou as manifestações de astúcia política vão sempre parar perto, porque as pessoas não são estúpidas. É sempre perigoso assentar na suposição de que o são porque os factos cedo se encarregarão de tornar patentes as tentativas de ludíbrio ou de sonegação de informação.

Se são políticos a fazê-lo, nas eleições seguintes far-se-ão as contas; se são administradores a cometer a falta, dificilmente recuperarão credibilidade; ora esta representa o seu maior capital. Nos dois casos o respeito desaparece.

As afirmações que são feitas apoiam-se sempre em factos ou em números. Será difícil contrariá-los! Aliás, relatam-se circunstâncias diversas em que houve tentativas de recurso a formas de proceder que resultaram mal porque não se respeitou o interlocutor ou o público, em geral.

O estilo adoptado é muito directo e, por isso, de grande eficácia de comunicação. Não se fazem elaborações rebuscadas. Apresentam-se factos sem adjectivação. Cabe ao leitor interpretá-los, o que não custa muito a fazer.

É evidente que são os interesses do Norte e do Centro que estão em causa e que se defendem. Mas, afinal, também são os interesses do País, porque ele depende muito da saída económica daquelas regiões e já experimentou de perto e longamente os malefícios da centralização exagerada que é de tradição."

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