Romancista inglesa Anita Brookner morre aos 87 anos

Vencedora do prémio Booker em 1984, publicou 24 romances e novelas, mas só começou a escrever depois dos 50 anos, quando já era uma prestigiada historiadora de arte.

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Historiadora de arte e romancista, a escritora inglesa Anita Brookner, vencedora do prémio Booker em 1984, com Hotel du Lac, morreu no passado dia 10 de Março, aos 87 anos, deixando indicações para que não fosse celebrado qualquer funeral. A sua morte só foi noticiada esta terça-feira.

Primeira mulher a ocupar, em 1967, a cátedra Slade de Belas Artes em Cambridge, sucedendo a nomes como Roger Fry, W. G. Constable ou Ernst Gombrich, Anita Brookner tinha já atrás de si uma carreira académica invulgarmente bem-sucedida quando se decidiu a publicar, em 1981, o seu primeiro romance, A Start in Life. Tinha 53 anos e, desde então, foi raro o ano em que não publicou um novo livro.

O seu romance mais conhecido é provavelmente Hotel du Lac (a edição portuguesa da Bertrand manteve o título original), história de uma escritora que, banida pelo seu círculo de amigos após ter posto fim a um noivado (e na ressaca de um amor secreto com um homem casado), vai passar uma temporada a um hotel na margem do lago Lemano, na fronteira franco-suíça, onde a observação dos outros hóspedes a ajuda a descortinar um rumo para a sua própria vida. Edith Hope, a protagonista do livro, pode servir de exemplo à heroína-padrão de Brokner: uma mulher culta de classe média, geralmente solitária e remoendo desilusões amorosas.

O romance ganhou o Booker em 1984, para surpresa de muitos, já que Brookner competia na shortlist do prémio com um conjunto de pesos-pesados, como J. G. Ballard, Julian Barnes ou David Lodge. Mas Hotel du Lac acabou por ser um dos dez romances mais vendidos no Reino Unido durante os anos 80, e em 1986 inspirou uma série televisiva da BBC, com Anna Massey no papel de Edith Hope.

Nascida em 1928 no subúrbio londrino de Herne Hill, filha única de um casal de emigrantes polacos de origem judaica – a mãe, a cantora Maude Schiska, mudou o apelido para Brookner por recear os sentimentos anti-alemães em Inglaterra –, a futura escritora estudou numa escola feminina privada, licenciou-se em História em 1949, e em 1953 doutorou-se em História da Arte pelo prestigiado Courtald Institute of Art.

Após uma passagem pela École du Louvre, em Paris, foi convidada a ensinar no Courtland por Anthony Blunt, historiador de arte e ex-espião a soldo da União Soviética, que dirigiu o instituto durante quase 30 anos. Quando se revelou como ficcionista em 1981, Brookner era ainda professora neste instituto, no qual se manteve até se reformar, em 1988.

Na sua última entrevista, dada ao Telegraph em 2009, a escritora recorda com nostalgia esses anos de docência: “Aí sentia-me realmente integrada, sentia que estava a fazer aquilo que mais apreciava: adorava a companhia, as ideias (…), e adorava a conversa”, diz a autora, concluindo: “Aquilo era autêntico, tudo o resto era a fingir”. Na mesma entrevista, aponta entre os seus escritores favoritos Charles Dickens, Gustave Flaubert, Henry James e Marcel Proust, mas também o criador do inspector Maigret, Georges Simenon.

Como outro célebre romancista inglês de origem polaca que também começou a escrever tarde, Joseph Conrad, Anita Brookner inicou a sua carreira de escritora depois dos 50 anos, mas esforçou-se arduamente por recuperar o tempo perdido. Nas três décadas que medeiam entre o seu livro de estreia, de 1981, e At the Hairdresser, uma novela de 2011 que já só foi publicada em ebook, escreveu 24 obras de ficção.

Muitos dos seus romances estão já publicados em Portugal, distribuídos por diversas chancelas. A Bertrand editou Hotel du Lac (1984), Fraude (1992) e Desconhecidos (2009), na Difel saíram Uma Amiga de Inglaterra (1987) e O Tempo Esquecido (1988), a Teorema editou Olhem para Mim (1983), a Livro Aberto publicou Família e Amigos (1985), e Visitantes (1997), A Baía dos Anjos (2001) e As Regras do Compromisso, um dos seus livros mais elogiados, saíram respectivamente com as chancelas da Editorial Notícias, da Casa das Letras e da Ulisseia.

Anita Brookner nunca casou, acompanhou de perto a velhice dos pais, e há vários anos que vivia quase como reclusa, raramente saindo de casa. Na já referida entrevista ao Telegraph, diz que foi por nunca ter tido filhos que se tornou escritora.

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