No negócio do porco, só o desespero está a aumentar

Suinicultores estão a vender carne a preços que não compensam os custos e manifestaram-se na Praça do Comércio. PSP desviou mais de 300 camiões para a Alta de Lisboa.

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Protesto dos suinicultores em Lisboa Nuno Ferreira Santos
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Sara e Rita chegam ao Terreiro do Paço lado a lado com uma caixa cor-de-rosa. Lá dentro está um leitão, uma prenda para o Ministro da Agricultura. “O meu bisavô já era suinicultor”, lia-se na t-shirt branca que envergavam. Com cinco anos, as duas primas nasceram numa família de produtores do Montijo e também “já trabalham muito na fazenda”. Trazem o discurso estudado e fazem pose para as câmaras com desenvoltura. “Não há mais dinheiro para comprar rações para as porquinhas”, explicam ao PÚBLICO.<_o3a_p>

Com a mãe e um grupo de produtores, subiram as escadas até às instalações do ministério, mas regressaram pouco tempo depois sem terem conseguido entregar em mãos o leitão a Capoulas Santos. “É uma falta de respeito. Fomos recebidas pelo chefe de gabinete e pelo assessor”, lamenta Mónica Gouveia. Desde o tempo dos bisavôs que a família se dedica à suinicultura, mas agora “não há futuro”. “Pretendemos continuar com produção própria mas o negócio está muito difícil”, conta.<_o3a_p>

João Correia, que há meses tem liderado protestos de produtores, sobretudo, junto aos supermercados, não esconde a desilusão por não poder dizer pessoalmente a Capoulas Santos que a actividade está “em colapso”. “É uma falta de respeito para com pessoas que trabalham 365 dias por ano e um sector que vale 600 milhões de euros”, disse, pedindo desculpas aos portugueses que, ao final do dia, enfrentavam o trânsito na Segunda Circular e no Eixo Norte/Sul, onde mais de 300 de camiões circulavam em marcha lenta em direcção a Lisboa. Ao final da tarde, a PSP estava a encaminhar as viaturas (que tinham como destino a sede do Ministério da Agricultura na Praça do Comércio) para a Alta de Lisboa.<_o3a_p>

O embargo russo é apontado como a principal causa para a crise que se vive nas explorações pecuárias. Sem exportações para aquele mercado, sobretudo originárias de grande produtores como a Alemanha e os países do Norte de Lisboa, há agora excesso de oferta de carne de porco na União Europeia. Os preços caíram e estão abaixo do preço de custo. O protesto de sexta-feira foi decidido num plenário organizado pela Federação Portuguesa de Associação de Suiniculores (FPAS) e anunciado como “marcante para a história da suinicultura portuguesa”.<_o3a_p>

“Sempre foi um negócio de altos e baixos, mas agora está em baixo há muito tempo, porque a Europa está toda assim”, diz Nuno Cavaco, da Sociedade Agrícola Central da Amendoeira, em Beja, com 500 porcas reprodutoras. Os matadouros e a indústria estão a pagar menos pelos suínos e as despesas com alimentação ou saúde animal continuam elevadas. “O meu preço de custo é 1,40 euros por quilo e vendo a 1,05 euros por quilo. É fazer as contas”, ilustra.<_o3a_p>

João Correia garante que os produtores não precisam de subsídios. Pedem linhas de crédito e renegociação de dívidas, que tiveram de assumir para não encerrar as explorações. E a abertura da Rússia para que a produção possa ser, novamente, escoada. Não acredita nas soluções apresentadas pelo Ministério da Agricultura e diz que “muito provavelmente no início do Verão, Portugal vai importar 90% da carne de porco”, fruto do encerramento de explorações.<_o3a_p>

Em comunicado, o gabinete de Capoulas Santos recusa as acusações de falta de iniciativa política. Recorda que foi criado um gabinete de crise específico para o sector e lembra que Portugal se tem batido na Comissão Europeia pelo fim do embargo russo. No plano nacional, refere que “o Governo tem vindo a trabalhar com a Assembleia da República no sentido de inscrever no Orçamento do Estado a possibilidade de isentar os suinicultores do pagamento de 50% do valor da Taxa Social Única”. O ministro da Agricultura “tem estado, e continuará a estar, solidário com os produtores portugueses de carne de porco e empenhado na busca de soluções, tanto no plano nacional como no plano comunitário”, lê-se no documento.<_o3a_p>

Sara e Rita já cumpriram o seu papel mas ainda têm energia para posar, uma última vez, para a máquina fotográfica. Atrás delas, o dispositivo policial observa atentamente as dezenas de produtores que se concentraram no Terreiro do Paço, com bandeiras negras e ar carregado.<_o3a_p>

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