Aumenta para o dobro o número de casais nidificantes de abutre-preto no Alentejo

Boas condições ambientais e abundância de alimento permitem o estabelecimento de um núcleo reprodutor desta espécie necrófaga na Herdade da Contenda, em Moura.

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A LPN acredita que é possível estabelecer “um núcleo reprodutor desta espécie” na região Manuel Roberto (arquivo)

Já são quatro os casais de abutre-preto (Aegypius monachus) identificados pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN) a nidificar na Herdade da Contenda, em Moura. Este dado revela que a população desta espécie necrófaga duplicou em relação à época anterior, quando foram localizados dois ninhos com sinais de ocupação, embora “só num deles tenha nascido uma cria que continua viva e a utilizar a região” referiu ao PÚBLICO Eduardo Santos, dirigente da Liga. 

Com efeito, na sequência da reprodução do abutre-preto no Alentejo na passada Primavera, facto que aconteceu pela primeira vez em mais de 40 anos e que culminou com o nascimento de uma fêmea na Herdade da Contenda, a LPN está a monitorizar a actual época de nidificação desta espécie na região.

Os resultados obtidos, até ao momento, indicam a existência na época em curso de três casais de abutre-negro a ocupar plataformas ninho artificiais instaladas no âmbito do projecto LIFE Habitat Lince Abutre. E, pela primeira vez, “confirma-se a existência de um ninho natural construído pela espécie”, assinala a Liga através de comunicado. Um destes casais encontra-se já em fase de incubação no ninho.

No decurso das observações realizadas, foi ainda possível confirmar a presença na área da fêmea de abutre-preto nascida na passada Primavera. O facto de este exemplar continuar vivo e a utilizar a região, assim como a detecção de quatro ninhos ocupados por abutre-preto, é um sinal das boas condições existentes para a espécie na Herdade da Contenda, que é propriedade da Câmara de Moura desde 1893 e ocupa uma área com cerca de 5300 hectares. 

Eduardo Santos salienta que no início dos anos 90 do século passado foram feitas várias tentativas para a introdução do abutre-preto na Herdade da Contenda, “mas sem sucesso”. 

Os dados já obtidos “são indicadores do consolidar da recuperação do abutre-preto no Alentejo”, salienta a LPN, facto que permite “antever o estabelecimento de um núcleo reprodutor desta espécie na região”. O dirigente da Liga acrescenta ainda outro factor que é determinante no crescimento do número de casais nidificantes: a rede com seis campos de alimentação entre Moura e Barrancos que a LPN está a gerir, acrescida do alimento fornecido pela concentração de caça grossa (veados, muflões) concentrados na Herdade da Contenda.  

No Tejo Internacional, entre Castelo Branco e Idanha-a-Nova, foram registados em 2015 uma “dezena de casais de abutre-negro”, espécie que já nidifica na região desde 2010, assinala o dirigente da Liga, acrescentando que também foi identificado um casal no Douro Internacional.

Mesmo assim, o abutre-negro continua a ser considerado uma espécie criticamente em perigo, facto que justifica o apelo da LPN ao voto no projecto Black Vulture Recovery, Southern Portugal, no âmbito da votação promovida pela European Outdoor Conservation Association que vai decorrer até dia 15 de Março. A vitória na votação “representará um apoio de cerca de 30 mil euros para a conservação do abutre-preto”, assinala a LPN.

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