Ex-gestor da Gaianima diz que auditoria que originou investigação foi encomenda política

Angelino Ferreira acusa actual maioria no município de Gaia de ter pedido auditoria a "pessoas na esfera do PS".

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Martin Henrik

Angelino Ferreira, o ex-administrador da antiga empresa municipal Gaianima, cuja gestão está a ser investigada pela Polícia Judiciária do Porto, acusou esta quarta-feira a actual maioria no município de Gaia de ter contratado “a pessoas na esfera do PS” a auditoria que em 2014 revelou ilegalidades financeiras em contratos da empresa municipal num valor de 4,4 milhões de euros e que originou a abertura de um inquérito-crime. 

Face às alegadas ligações partidárias dos auditores, o ex-administrador considerou ainda que a auditoria não tem "credibilidade" e que investigação decorre de  uma “guerrilha política” na qual não quer ter “qualquer papel”. A autarquia recusou-se a responder às acusações, reservando para “momento oportuno” uma tomada de posição. Angelino Ferreira está a ponderar se pede ou não ao Ministério Público para ser ouvido como arguido no processo.

Também ex-administrador da SAD do FC Porto, Angelino Ferreira decidiu convocar uma conferência de imprensa nesta quarta-feira, um dia depois de, no âmbito desse inquérito, a PJ ter realizado - segundo um comunicado da Procuradoria Distrital do Porto - 24 buscas, nomeadamente na Câmara de Gaia e na Gaiurb, onde agora trabalha um antigo director financeiro na Gaianima, empresa municipal extinta em meados de 2015.

As buscas estenderam-se ainda a diversas empresas e domicílios, alguns deles de directores de empresas com as quais a Gaianima assinou contratos, nomeadamente sociedades que realizam eventos e trabalham na área da publicidade. Não foram, porém, constituídos arguidos na sequência dessa operação. Esses contratos terão contado sempre com a assinatura de Angelino Ferreira, porque era o administrador não-executivo e responsável financeiro na empresa municipal.

Em causa estão vários crimes, entre eles o de administração danosa, que terão ocorrido durante os mandatos de Luís Filipe Menezes na presidência da Câmara de Gaia. O ex-autarca não é, contudo, visado directamente neste inquérito. Menezes está a ser investigado no âmbito de outros processos e, ao contrário do que o PÚBLICO referiu esta terça-feira, já não conta com a imunidade de que beneficiava por integrar o Conselho de Estado. Deixou aquele órgão consultivo do Presidente da República em Janeiro deste ano.

Ontem o ex-presidente da Câmara de Gaia, Luís Filipe Menezes, considerou "abusiva" a associação do seu nome à investigação à Gaianima e afirmou-se "disponível" para colaborar com a justiça. Menezes garante "nunca" ter interferido "em qualquer aspecto relacionado com a gestão e administração desta (ou de outra) empresa municipal" e que a autarquia "limitava-se a proceder a uma aprovação formal do Plano de Actividades e Conta de gerência.

Entre os suspeitos no processo referente à gestão da Gaianima estarão alguns ex-administradores da empresa municipal, mas pelo menos Angelino Ferreira, não está preocupado. “Estou tranquilo a aguardar as buscas e estarei disponível para ser visitado, estando certo de que não encontrarão nada, nem sobre isso nem sobre outra coisa qualquer”, garantiu.

A auditoria, que foi pedida em Abril de 2014, fez uma avaliação económico-financeira às contas da empresa então com um passivo de 14 milhões. “Quando vejo falarem em buraco financeiro, gostava de saber o que querem dizer com isso. Nessa altura a Gaianima tinha esse passivo, é verdade, mas tinha activos de 17 milhões”, sublinhou Angelino que, porém, não quis comentar os alegados contratos ilegais com 120 fornecedores.

A inspecção concluiu que, em 2012 e 2013, o conselho de administração de então, presidido por Ricardo Almeida (actual vereador do PSD, na oposição, na Câmara do Porto) e integrado pelos administradores não-executivos Angelino Ferreira e pelo ex-futebolista João Vieira Pinto, violou de forma “reiterada” as regras de contratação pública e a lei dos compromissos, à revelia da ordem da câmara.

Questionado diversas vezes, Angelino Ferreira admitiu que assinava todos os contratos, mas sublinhou que não trabalhava diariamente na empresa e que apenas tinha acesso a dossiers sobre os contratos que eram preparados por funcionários da Gaianima. “Não assinava de cruz, mas dava-os como bons”, disse o economista, admitindo, contudo, que pode “eventualmente”, nessa função, ter tido “alguma inobservância de algumas regras da contratação pública” que “não têm nada a ver com gestão danosa”.

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