Atrasos e planos alterados marcam requalificação das bibliotecas de Lisboa

O PEV queria saber se o programa anunciado em 2012 foi “parcialmente abandonado”. A vereadora da Cultura respondeu que ele “está de muitíssimo boa saúde”, mas deixou várias preocupações sem resposta.

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PÚBLICO/Arquivo

De atraso em atraso, a conclusão do programa que a Câmara de Lisboa lançou em 2012 com o objectivo de trazer as suas bibliotecas para o século XXI vai-se arrastando, existindo várias obras anunciadas das quais não mais se ouviu falar. Às dúvidas do PEV sobre se o programa foi “parcialmente abandonado”, a vereadora da Cultura respondeu que ele “está de muitíssimo boa saúde”.

Para demonstrar isso mesmo, Catarina Vaz Pinto, que falava esta terça-feira numa sessão da Assembleia Municipal de Lisboa, sublinhou que “em Setembro” abrirá ao público a Biblioteca de Marvila, que “será a segunda maior de Lisboa”. Além disso, acrescentou a autarca, as obras em curso na Biblioteca Palácio Galveias, no Campo Pequeno, estarão concluídas “até ao final do ano”, estando a sua reabertura prevista para “o início do próximo ano”.

Catarina Vaz Pinto deu ainda conta de que há obras em curso nas bibliotecas de Belém (que “está a sofrer uma grande remodelação”) e Orlando Ribeiro, em Telheiras, estando ainda prevista a realização de trabalhos na Biblioteca da Penha de França. Sem adiantar prazos, a vereadora disse ainda que a câmara está a concluir o projecto da Biblioteca de Alcântara.

Quanto à futura Biblioteca de Benfica, que se dizia em 2012 que ia ser instalada na antiga Fábrica Simões, Catarina Vaz Pinto prometeu que em breve “haverá novidades”, informando ainda que “provavelmente” não se vai concretizar a solução que estava prevista.

Na sua intervenção, a autarca afirmou que o Programa Estratégico Biblioteca XXI “está de muitíssimo boa saúde” e garantiu que “entre este ano e o próximo” haverá a este nível “resultados muito visíveis”.

Aquilo que Catarina Vaz Pinto não disse é que é já grande o atraso em relação àquilo que estava previsto. Exemplo disso é o facto de ainda hoje estarem em aberto duas situações cuja resolução tinha sido apontada para o fim de 2013: a realização de obras na Biblioteca Palácio Galveias e a relocalização da Hemeroteca Municipal no Complexo Desportivo da Lapa. No mesmo prazo devia ter ficado pronta a Biblioteca de Marvila, sendo que do equipamento anunciado para a Alta de Lisboa não mais se ouviu falar.   

Apesar de ter sido questionada pelo deputado Sobreda Antunes, do PEV, sobre o futuro da Hemeroteca Municipal, a vereadora da Cultura nada disse sobre o assunto. Também sem resposta ficaram as preocupações demonstradas pelo autarca com a Bedeteca, que está “longe dos tempos em que era vista como uma referência”, e com a Biblioteca Itinerante, que presta hoje “serviços mínimos”.

Lembrando que o Programa Estratégico Biblioteca XXI ditava que se dotasse a cidade de oito “bibliotecas âncora” e 18 de bairro até 2024, Sobreda Antunes quis saber se o plano “foi ou não parcialmente abandonado” e “o que se mantém em projecto”. Também abordada pelo deputado municipal foi a situação do Arquivo Municipal, que está actualmente disperso por cinco locais.

De acordo com Catarina Vaz Pinto, vai haver uma concentração desse equipamento em dois espaços. Um deles é o Alto da Eira, onde a câmara está a promover obras no valor de cerca de 2,6 milhões de euros com vista à instalação do seu arquivo urbanístico. Quanto ao chamado arquivo histórico, bem como ao fotográfico e à videoteca, a vereadora explicou que o município ainda está à procura de um espaço para os instalar.

Nesta reunião da assembleia municipal, o comunista Modesto Navarro lembrou que o seu partido está a aguardar desde o final de 2014 respostas da câmara a um requerimento sobre os três trabalhadores da antiga Biblioteca-Museu República e Resistência/Espaço Grandella, que em Março desse ano acompanharam a transferência do equipamento para a Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica.

Desde essa altura, e atendendo a que a biblioteca deixou de existir como tal e a que praticamente não lhes foi atribuído trabalho, os funcionários em causa vêm reclamando o regresso à câmara. Esta terça-feira, dois anos depois dos factos, os três trabalhadores tiveram finalmente uma resposta: o vereador dos Recursos Humanos, João Paulo Saraiva, anunciou que poderão regressar ao município. Não para ocupar os seus postos de trabalho, que ficaram cativos, mas numa situação de mobilidade, que poderá depois ser consolidada.

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