Mortes por doenças respiratórias diminuem ligeiramente

Relatório "Portugal - Doenças Respiratórias em Números 2015" divulgado esta terça-feira revela que Açores e Madeira registam a taxa de mortalidade mais elevada do país, com a região de Lisboa do lado oposto. A pneumonia continua a ser a patologia mais letal.

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Adriano Miranda /Arquivo

A morte por causa respiratória – excluindo a tuberculose e o cancro do pulmão – tem vindo a aumentar desde a década de 1990, representando a terceira doença mais mortal no país com 11,8% dos óbitos registados (em 1988 era de 6,9%). No entanto, em 2014, registou-se um ligeiro decréscimo dos óbitos que passaram de 12.611 (em 2013) para 12.147. À semelhança de anos anteriores, Portugal continua a estar bem acima da média europeia na taxa de mortalidade por doenças respiratórias acima dos 65 anos e a pneumonia mantém-se como a patologia mais letal, sendo responsável por quase metade dos óbitos registados. Estes são alguns dos dados do relatório “Portugal – Doenças Respiratórias em Números 2015”, divulgado esta terça-feira, pela Direcção-Geral de Saúde (DGS), com dados relativos a 2014 e actualizando os registos de 2013.

Em 2014, refere este relatório, as doenças do foro respiratório foram responsáveis por 12.147 óbitos em Portugal, correspondendo 52% dos óbitos ao género masculino. A tendência da predominância de mortes dos homens “tem vindo a esbater-se ao longo dos anos” sendo, no momento actual, “discretamente inferior” às mulheres, assinala-se no documento.

A pneumonia continua a ser a doença respiratória mais mortífera sendo responsável por 46% das mortes do foro respiratório, registando 5490 óbitos em 2013. No entanto, registou uma redução face a 2012, onde foi responsável por 55% das mortes. A taxa padronizada de mortalidade por bronquite, enfisema e outras doenças pulmonares obstrutivas crónicas também tem vindo a diminuir desde 2007 (menos 15% em 2013). A fibrose quística e a síndrome da apneia do sono são as doenças com menor incidência mortal com 0,04% e 0,01%, respectivamente.

O relatório evidencia ainda as assimetrias regionais nas taxas de mortalidade, mostrando que, em 2014, as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores apresentaram os valores mais elevados e a região de Lisboa os valores mais baixos. Em particular, a região autónoma dos Açores destacou-se negativamente por ser a única região nacional onde a taxa subiu relativamente ao ano anterior.

No que respeita à mortalidade no panorama europeu, Portugal encontra-se, com 6,09 mortes por 100 mil habitantes no grupo etário entre os 0 e os 64 anos, numa posição abaixo da média europeia (7,92). Em sentido contrário, a partir dos 65 anos, Portugal regista 512 mortes por 100 mil habitantes, um valor muito superior à média europeia (308), ocupando o segundo lugar, apenas precedido pelo Reino Unido. Apesar disso, esta faixa etária apresentou, em 2013, um decréscimo de 19,2% face a 2009. Esta diferença entre os grupos etários deve-se à “elevada taxa de mortalidade padronizada para as pneumonias”, conclui o estudo. A taxa de mortalidade aumenta de forma acentuada em doentes com 75 anos ou mais, sendo aos 85 anos 20 vezes superior à mortalidade registada em todas as faixas etárias.

A elevada taxa de mortalidade por pneumonia nos hospitais portugueses não surpreende os especialistas. “É uma tendência que se verifica há anos”, avançou ao PÚBLICO Carlos Robalo Cordeiro, Presidente da Associação Portuguesa de Pneumologia (SPP). O médico aponta ainda várias justificações para este “mau posicionamento europeu”, a idade avançada e o aumento da população envelhecida, aumenta a incidência da doença mortal. Além disso, muitas destas pneumonias surgem em “doentes crónicos, com diabetes ou outras complicações”, tornando o processo de recuperação mais difícil.

"Em termos de comparação com outros países europeus, verifica-se que a mortalidade por asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica situa-se abaixo da média europeia, ocupando a mortalidade por pneumonia posição inversa", refere o relatório que adianta ainda que "há a registar um decréscimo de internamentos devido a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica e uma tendência para estabilização dos internamentos devido a asma brônquica". "Salienta-se também que, o número de internamentos por pneumonias tem vindo a decrescer pela primeira vez, desde 2013", sublinha o documento.

Apesar do ligeiro decréscimo desde 2013, as doenças respiratórias continuam a ser a terceira principal causa de morte, depois das doenças cardiovasculares e os tumores. No que respeita a encargos com cuidados de saúde, constituem a quinta causa de internamento (representam 6,6% do total dos doentes internados) e a primeira causa de mortalidade intra-hospitalar. O presidente da SPP lembra que estes casos podem ser exemplos de “pneumonias de fim de vida”, ou seja, os doentes de faixas etárias avançadas procuraram uma unidade hospitalar quando têm dificuldades respiratórias em, como se de uma “cultura ou hábito” se tratasse, acabando muitos deles por falecer nos hospitais. Esta tendência não se verifica tanto nos outros países europeus, podendo assim justificar a primeira causa de morte intra-hospitalar.

Em Portugal, e excluindo o cancro do pulmão, constituem também a terceira doença com mais gastos directos em internamentos hospitalares, a seguir aos custos das doenças cardiovasculares e do sistema nervoso, correspondendo em 2013 a um encargo de 213 milhões de euros. O custo médio de um internamento foi, no mesmo ano, de 1892 euros.

Tendo em vista a redução da mortalidade e internamentos por doenças respiratórias, o relatório mostra a necessidade de promover medidas preventivas como “o controlo de factores de risco” em particular dos poluentes do ar e o tabagismo, bem como aumentar a cobertura de vacinas para a gripe, sobretudo em idades superiores ou iguais a 65 anos. Para a pneumonia em particular, em 2015, o pneumologista Artur Teles de Araújo sugeria a criação de uma “via verde” para que os doentes pudessem aceder em tempo útil aos serviços de saúde e tratamento adequado, relembrando que os internamentos por esta doença têm aumentado 20% na última década. 

Para Carlos Robalo Cordeiro o Serviço Nacional de Saúde tem “um bom programa de acção” e reúne todas as capacidades de receber e tratar os utentes com doenças do foro respiratório. Apostar na disseminação de informação e sobretudo na vacinação são, para o pneumologista, as formas de diminuir a incidência da taxa de mortalidade. “Exemplo disso é a gripe que após a campanha de vacinação já regista menores ocorrências na ida às urgências”, rematou.

Relembrou ainda que estes dados se referem a 2014, acreditando que quando forem divulgados dados mais recentes se verifique “um sentido maior de inversão”. 

Texto editado por Andrea Cunha Freitas       

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