Mulheres abandonam mais depressa lugares no topo do que os homens

A velocidade com que as gestoras deixam cargos executivos é 1,3 vezes superior à dos homens, revela estudo. Paridade não será atingida nos próximos dez anos.

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Em Portugal, 28,5% das empresas são lideradas por mulheres Stefan Wermuth/Reuters

Há cada vez mais mulheres em cargos de topo nas empresas, mas a sua permanência em funções executivas não está ao nível da dos homens. No Dia da Mulher, um estudo da consultora de recursos humanos Mercer revela que a velocidade com que as gestoras abandonam o lugar é 1,3 vezes superior à dos homens, “pondo em causa os benefícios que se poderiam alcançar” com a promoção para lugares de responsabilidade.

A progressão feminina tem sido lenta, mas já se espelha nas estatísticas dos últimos cinco anos. Dados recentes compilados pela Informa D&B, por exemplo, mostram que entre 2011 e 2015 se registou um aumento de 5,2 pontos percentuais das empresas que em Portugal são lideradas por mulheres (28,5% do total). No mesmo período, os conselhos de administração das cotadas na Bolsa de Lisboa aumentaram o peso feminino em cinco pontos percentuais mas o peso total é de apenas 10,7%. E no universo das 500 maiores empresas do país, 8,3% são lideradas por mulheres (um aumento de 2,1 pontos percentuais).

Chegar ao topo é um caminho árduo e a permanência no cargo é outro desafio. “Embora se tenha verificado um esforço de promoção e recrutamento das mulheres para níveis mais seniores, a saída de mulheres a nível de lugares executivos e direcção de primeira linha é superior, o que significa que os dados obtidos até à data serão eliminados, pelo menos parcialmente nos próximos anos, já que as mulheres não se mantêm nesses cargos”, aponta o estudo da Mercer. Este retrato é válido para as 600 empresas inquiridas, incluindo em Portugal.

Nélia Câmara, directora da consultora, explica que o relatório não detalha os motivos para a saída mais rápida das gestoras, mas acredita que uma das razões se prende com a procura de uma solução imediata para aumentar a presença de mulheres nas empresas. A pressão nunca foi maior: Bruxelas quer 33% dos cargos de administração das empresas ocupados por mulheres até 2020. Em Portugal, o Governo quer impor quotas de género nos conselhos de administração das empresas do Estado e nas cotadas e ter um terço dos cargos de topo ocupados por mulheres até 2020 (2018 no sector empresarial do Estado).

“O que parece é que estão a resolver a situação de forma mais rápida, como se fosse um penso rápido. Coloca-se as mulheres num ambiente que continua a ser de homens”, começa por dizer. Outro dos motivos prende-se com o escasso “talento feminino” disponível em cargos de responsabilidade, que faz com que na hora de recrutar haja, também, poucas candidatas com experiência. “As mulheres são promovidas e nem pensam se é o seu caminho. Porque agora fica bem ter mais mulheres no topo. Isto não é um comentário negativo, não sou a favor de quotas mas penso que em alguns casos pode ajudar a cumprir objectivos. Mas é preciso criar o ambiente para que consigam vingar e ter sucesso na nova função”, defende Nélia Câmara.

As empresas sentem cada vez mais necessidade de promover a paridade, contudo, dentro de portas o ambiente continua “masculino”. “É preciso que as próprias organizações estejam preparadas para pensar e agir diferente. E esta preparação não foi feita. Como referi, é um penso rápido. Ainda não estão criadas as condições para que as mulheres se mantenham no cargo e isto é uma evidência de que está a acontecer em termos globais”, sustenta. O desafio é conseguir manter a presença feminina que tem sido conquistada ao longo dos anos: “Ninguém quer a sensação de que está lá só para ser um número. As mulheres querem estar lá porque têm valores e competências para tal”.

O estudo (denominado When Women Thrive) mostra ainda que, a manterem-se as actuais políticas de recrutamento, promoção e retenção de mulheres, "apenas a América Latina" irá atingir a paridade, de 36% em 2015 para 49% em 2025. "A Europa mantém-se estagnada em 37% ao fim de dez anos. Portugal e Espanha estão alinhados, prevendo-se um crescimento ligeiro de 44% em 2015 para 45% em 2025", lê-se. É na Ásia que a presença feminina é mais escassa: 25% o ano passado, com previsões de crescer para 28% na próxima década.

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