Afegãos vêm pedir ajuda, mas a UE fecha os olhos

Violência dos taliban está a aumentar e taxa de desemprego subiu para 40% num país em guerra há décadas. Mas estes nacionais estão a ser mandados para trás nas fronteiras europeias.

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Um pai afegão com o seu filho, à chegada à ilha grega de Lesbos, em Novembro Alkis Konstantinidis/REUTERS

Um quarto dos migrantes que chegam às costas do Mediterrâneo em busca de auxílio são afegãos. Mas, uma a uma, as fronteiras da Europa estão a fechar-se para eles. Em vez de refugiados, são considerados simplesmente imigrantes económicos e mandados para trás.

“A União Europeia está exclusivamente focada na Síria. Mesmo se a guerra na Síria acabasse já amanhã, continuaria a existir uma crise dos refugiados muito grave, com um grande número de refugiados na Turquia, que não têm acesso áquilo a que têm direito”, afirmou à Reuters Kati Piri, uma eurodeputada holandesa envolvida no último relatório sobre os progressos feitos pela Turquia para a adesão à UE.

A Reuters confirmou com vários migrantes afegãos na Turquia que lhes tem sido negado o acesso a responsáveis do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) – entrevistas que determinariam se poderiam ou não ser considerados refugiados. Além disso, as clínicas e escolas criadas na Turquia com financiamento europeu são feitas a pensar em quem fale árabe. E os afegãos falam pashto e dari – o que os deixa também excluídos.

Mais de 63 mil afegãos chegaram à Turquia no ano passado – uma grande diferença em relação aos 15.652 de 2014, de acordo com a ASAM, uma organização que regista requerentes de asilo na Turquia. Alguns vieram directamente do Afeganistão, cerca de um quarto vieram do Irão, onde tentaram viver inicialmente, embora sem sucesso.

De forma simplista, a União Europeia considera que o Afeganistão não está em guerra. Mas está e há muitos anos – com um inimigo externo, ou então interno, como os taliban, cuja violência está de novo em ascendência. Pelo menos 11 mil civis morreram ou ficaram feridos em 2015, e a corrupção é um fenómeno tão generalizado na sociedade que os afegãos não conseguem ter esperança no futuro.

A economia, destruída por décadas de guerra, não produz empregos para a sua população jovem. De acordo com a Organização Central de Estatísticas do Afeganistão, a taxa de desemprego no Afeganistão subiu 15% entre Fevereiro de 2015 e Fevereiro de 2016, para 40%, diz a Al-Jazira. 

Uma boa parte dos afegãos que estão a chegar agora à Turquia e à Grécia, e procuram refúgio na Europa, vêm de Cabul, a capital, que tem sido assolada por uma onda de atentados taliban, e também da província de Helmand, a base tradicional do seu poder e um importante centro produtor de ópio, o ingrediente de base da heroína.

Uma grande parte do território de Helmand está sob controlo dos taliban, depois de em 2015 estes terem lançado mais ataques nesta província do que em qualquer outra região, cercando cada vez mais a capital, Lashkar Gah. O actual líder dos taliban, Akhtar Mansour, faz parte da tribo Ishaqzai, que constitui uma parte importante da população desta província que é considerada estratégica para controlar o Sul do país.

Muitos dos afegãos que estão a chegar à Europa são hazara – uma minoria étnica xiita, de origem persa mas com traços asiáticos, que historicamente tem sido discriminada e chamada de “mongol”. Após a invasão do Iraque pelos EUA e seus aliados, em 2001, conseguiram conquistar uma certa relevância política, mas são perseguidos pelos taliban e pelo Estado Islâmico, que dá sinais de estar a montar uma estrutura própria no Afeganistão.

A retirada das forças da NATO em 2014 deixou os membros desta etnia mais vulneráveis – e incentivou muitos milhares de hazaras a deixar o país. Segundo uma análise das estatísticas de chegadas à Grécia em Janeiro feita pelo ACNUR, 55% dos afegãos eram hazaras.

 

 

 

 

 

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