Eutanásia: bastonário acha que Pereira Coelho foi "mal interpretado"

PGR vai analisar declarações de médico reputado que disse à RTP ter assistido a casos de eutanásia nos hospitais

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Em 2012 saíram menos cerca de 150 utentes por dia nos hospitais Paulo Pimenta

O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, desdramatizou este domingo as afirmações sobre morte assistida do médico António Pereira Coelho à RTP, por considerar que elas não se referem à eutanásia activa, razão pela qual não se justifica, na sua opinião, qualquer “alarme social”.

O bastonário disse ser essencial que todos oiçam na íntegra as declarações de Pereira Coelho e percebam que “aquilo a que se refere não é eutanásia activa”. José Manuel Silva  entende que as declarações de Pereira Coelho sobre situações de morte assistida estão a ser “mal interpretadas”, inclusivamente pelo próprio, ao “misturar conceitos” de eutanásia, distanásia e ortotanásia, que são distintos. Mas reconheceu que é frequente haver confusão de conceitos, até por parte próprios profissionais de saúde. Para o bastonário, é preciso que o debate sobre o tema prossiga “sereno, profundo, esclarecedor e despolitizado”.

Aquilo a que António Pereira Coelho aludiu no programa da RTP, refere o bastonário, foi à “morte natural” do seu próprio pai, que estava numa “situação terminal”. Em sua opinião, tal situação não se enquadra naquilo que tem vindo a ser discutido, ou seja a eutanásia activa. “Não se trata de eutanásia, mas sim de [situações] de morte natural que assistimos todos os dias nos hospitais”, acrescentou, notando que nos centros hospitalares não se pratica eutanásia activa, antecipando a morte dos doentes.

Questionado sobre a eutanásia, Pereira Coelho, conhecido como o “pai do bebé-proveta”, ex-membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, admitiu já ter vivido a situações dessas. “Posso dizer que já assisti a alguns casos destes na minha vida profissional nos hospitais”, declarou.

Na entrevista revelou que até colaborou no momento da morte do seu progenitor. “Eu próprio colaborei quando foi da morte do meu pai. Uma morte muito arrastada, prevista e previsível para um curto prazo”, recordou.

Perguntas&Respostas sobre morte assistida

Entretanto, numa resposta enviada à Lusa, a Procuradoria-Geral da República referiu que “o Ministério Público não deixará de analisar as declarações em questão” e que “sempre que tem conhecimento de factos susceptíveis de integrarem a prática de crime, age em conformidade, através da instauração do competente inquérito”.

A agência noticiosa contactou Pereira Coelho, mas o médico não quis prestar declarações sobre o assunto.

A eutanásia activa, a que está em causa no manifesto e na petição lançados pelos defensores da despenalização da morte assistida, implica que o doente esteja consciente e peça de forma reiterada aos profissionais de saúde que lhe antecipem a morte.

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