Síria acorda para primeiro dia de cessar-fogo com silêncio, explosões e um ataque

Rebeldes acusam forças governamentais de ataque durante a madrugada.

Foto
Para os defensores de uma intervenção, a "linha vermelha" já foi ultrapassada na Síria DIMITAR DILKOFF/AFP

“Em Damasco e na sua zona rural… pela primeira vez em anos, a calma prevalece”. A descrição chegou pouco depois da meia-noite deste sábado por Rami Abdulrahman. O director do Observatório para os Direitos Humanos descreveu da mesma forma outras regiões do país.

“Em Latakia, calma, e na base áerea de Hmeimim”, usada pela aviação russa, “não há actividade”, confirmou após o início de uma trégua de duas semanas na Síria.  No entanto é o próprio Abdulrahman que afirma que foram ouvidos disparos na cidade de Aleppo e explosões na província de Homs já depois do início do cessar-fogo, sem conseguir garantir os responsáveis.

Por outro lado, um porta-voz de uma facção rebelde, associada ao Exército Livre da Síria, acusou o regime de Bashar al-Assad de violar o acordo. O grupo, activo no noroeste do país, afirma ter sido atacado pelas forças do governo por volta das 4h (hora local), num ataque terrestre que causou a morte a três rebeldes. Segundo a mesma fonte, citada pela Reuters, a ofensiva já foi suspensa.

De acordo com a Reuters, na região onde se terá verificado o ataque, a província de Latakia, próxima da fronteira com a Turquia, existem zonas sob domínio da Frente al-Nusra. Esta organização, tida como o ramo da Al-Qaeda da Síria, encontra-se excluída deste cessar-fogo, à semelhança do Estado Islâmico, por serem ambas rotuladas como terroristas pelas Nações Unidas (ONU)

No entanto, o porta-voz da facção rebelde que diz ter sido atacado pelo exército sírio garante que as posições em questão pertencem ao seu grupo e não há qualquer presença da Frente al-Nusra.

Ainda durante a madrugada, logo após o início do cessar-fogo, a televisão estatal síria deu conta da explosão de um carro armadilhado que vitimou duas pessoas à entrada de uma cidade na província de Hama.

Para além de reabrir caminho para as negociações entre as duas parte do conflito, o objectivo imediato desta “cessação de hostilidades” – negociada pelo Grupo Internacional de Apoio à Síria, co-presidido por Estados Unidos e Rússia – passa por levar ajuda aos cidadãos sírios que se encontram em zonas sitiadas ou de difícil acesso.

ONU esperava "soluços" neste cessar-fogo
O enviado especial das Nações Unidas, Staffan de Mistura, assumiu que esperava alguns “soluços” nesta trégua. “O importante é perceber se esses incidentes serão rapidamente controlados e contidos”, acrescentou.

“Vamos rezar para que isto funcione porque honestamente esta é a melhor oportunidade que os sírios terão e tiveram nos últimos cinco anos de forma a ver algo melhor e, esperamos, algo relacionado com a paz”, concluiu de Mistura.

Se o cessar-fogo for respeitado, uma segunda ronda de negociações de paz deverá iniciar-se a 7 de Março. Caso contrário, os Estados Unidos e a Rússia irão alertar os restantes países que apoiam o processo de paz. Uma resposta militar será um último e proporcional recurso, garante o enviado da ONU.

A Guerra na Síria iniciou-se há cerca de cinco anos e já causou centenas de milhares de mortos e cinco milhões de refugiados.

Sugerir correcção
Ler 16 comentários