Cimeira europeia prolonga-se sem sinais de acordo com o Reino Unido

Quase 24 horas depois do início, e sem notícia de progressos visíveis, presidente do Conselho Europeu marca jantar de trabalho.

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Donald Tusk e Jean-Claude Juncker reunidos com David Cameron YVES HERMAN/AFP

Ainda não há acordo nem indícios de que ele será alcançado durante a cimeira que decorre em Bruxelas com o objectivo de negociar "um novo quadro" nas relações entre a União Europeia e o Reino Unido. A reunião, que deveria ter terminado ao final da manhã, vai continuar pelo menos até à noite desta sexta-feira.

Os sucessivos adiamentos de uma nova sessão de trabalho entre os 28 chefes de Estado e de Governo provam o quão difíceis estão a ser as negociações, apesar da vontade, expressa por todos, de chegar o quanto antes a um acordo. O "pequeno-almoço inglês" que constava da agenda inicial dos trabalhos foi sendo adiado ao longo do dia - passou primeiro a brunch, depois a almoço e, quando se abeirava a hora do chá, o porta-voz de Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, anunciou através do Twitter: "Agora é um 'jantar inglês'". Algumas delegações confidenciaram ter sido aconselhadas a reservar mais uma noite no hotel.

"Como já afirmei, só aceitarei um acordo que garanta aquilo que o Reino Unido necessita", disse o primeiro-ministro britânico, David Cameron, visivelmente tenso, no reinício dos trabalhos. Donald Tusk, com quem Cameron esteve reunido até perto das 5h30 da manhã para tentar desbloquear os pontos mais polémicos da renegociação, afirmou à saída que tinham sido feitos "progressos", mas havia "ainda muito a fazer".

A manhã foi gasta em negociações bilaterais - Cameron começou por se reunir novamente com Tusk, depois agendou um encontro com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e com a chefe de Governo polaca, Beata Szydlo. Desvalorizando a pressão para um entendimento a breve prazo, disse que, a bem de um acordo, "aceitaria de bom grado ficar até domingo" em Bruxelas.

É igualmente possível que decidam dar por terminada a reunião e agendar uma cimeira de emergência para o fim do mês, o que daria ainda tempo a Cameron de realizar o referendo à permanência do Reino Unido na UE na sua data preferida – 23 de Junho. Em Londres, adianta a BBC, os ministros do Governo conservador aguardam um telefonema de Cameron, que, se conseguir um acordo em Bruxelas, planeia reunir de imediato o Conselho de Ministros e oficializar a data da consulta.

Mas, depois de uma noite em que abundaram os sinais de desacordo, não é claro se um entendimento pode estar ao alcance: Londres exigiu poder activar durante 13 anos o "travão de emergência" que, em caso de acordo, lhe permitirá suspender a atribuição de apoios aos trabalhadores vindos de outros países da UE. O prazo é muito mais dilatado do que a Comissão Europeia ou os países mais pobres da UE estão dispostos a aceitar, mantendo estes também a exigência de que as restrições não sejam retroactivas, nem possam ser aplicadas por outros Estados-membros.

O Presidente francês, François Hollande, endureceu as críticas à exigência do Reino Unido para ser ouvido nas decisões da zona euro que possam ter impacto na sua economia – Paris teme, em particular, que essa salvaguarda equivala a um direito de veto e recusa que a City possa isentar-se das regulamentações financeiras da UE. "Queremos chegar a um acordo com o Reino Unido, mas não podemos dar-lhe um poder de bloqueio sobre a união bancária ou a integração da zona euro", disse Hollande ao início da manhã.

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