O trabalho mais fácil da vida de Toni Fritsch

A história de sucesso de um avançado austríaco, que se tornou numa “estrela” do futebol americano.

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Toni Fritsch jogou futebol e futebol americano DR

Há demasiadas diferenças entre o futebol (aquilo a que os norte-americanos e os irlandeses chamam “soccer”) e o futebol (aquilo a que o resto do mundo chama futebol americano). Fiquemo-nos por uma delas. No futebol soccer, o objectivo final é meter a bola na baliza, entre os postes e por baixo da trave. No futebol americano, uma das formas de marcar pontos é fazer passar a oval entre os postes e por cima da trave. Esta é a história de Toni Fritsch, o vienense de nascimento e texano por adopção que marcou, com igual sucesso, golos e pontos nos dois futebóis.

Toni Fritsch era um pequeno e rápido avançado que tinha feito carreira no Rapid de Viena, clube onde começara a jogar aos 13 anos. Cumpriu oito temporadas na equipa principal, marcou 15 golos e foi três vezes campeão, chegando a representar a selecção austríaca por nove vezes. A sua internacionalização mais famosa aconteceu em Wembley, em 1965, num Inglaterra-Áustria em que Fritsch marcou dois golos frente no triunfo austríaco por 3-2 frente a uma selecção que, no ano seguinte, seria campeã mundial naquele mesmo estádio.

Fritsch tinha uma carreira estável na terra de Strauss e Maria Antonieta, mas, em 1971, decidiu mudar de cidade, de continente e de desporto. Nessa altura, as equipas da National Football League (NFL) andavam à procura de “kickers” de futebol para as suas equipas e tinham olheiros espalhados pela Europa com este propósito. Um enviado dos Dallas Cowboys a Viena reparou em Fritsch e, depois dos testes, ofereceu-lhe um contrato.

O austríaco não sabia falar inglês, nunca tinha visto uma oval de futebol americano e nem sequer conhecia as regras da modalidade. Na verdade, nem precisava de saber. Só precisava de força nas pernas e técnica de remate. E isso ele tinha. “Deram-me uma bola de futebol e mostraram-me como se fazia. De repente, estavam a oferecer-me dinheiro para ir para a América e jogar este estranho desporto”, recordou mais tarde.

Nesse Verão, Fritsch começou a treinar-se com os Cowboys e ainda levou algum tempo para se estrear num jogo da NFL, mas, quando o fez, foi decisivo. Num jogo frente aos St. Louis Cardinals, o austríaco converteu um “field goal” de 24 metros que valeu uma vitória aos Cowboys por 16-13. No ano seguinte, jogou com mais regularidade e esteve na equipa dos Cowboys que ganharia a Super Bowl VI. Saiu de Dallas em 1976, representando mais três equipas na NFL, os San Diego Chargers, os Houston Oilers e New Orleans Saints, sempre como primeira escolha quando era preciso atirar aos postes e sempre com alta percentagem de acerto.

Depois de se retirar, ficou a viver em Houston, mas acabaria por morrer na cidade onde nasceu, Viena, vítima de um ataque cardíaco, aos 60 anos, e sem nunca se arrepender de ter mudado de vida. Para ele, como recorda Oliver Luck, um antigo companheiro de equipa nos Oilers, a versão americana do futebol não tinha segredos: “Oliver, este é o trabalho mais simples que eu alguma vez tive. Já joguei futebol e consigo meter a bola onde quiser.”

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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