União Europeia "fracassou catastroficamente" na crise migratória

“A Europa tem que parar de jogar com as vidas e a dignidade” de milhares de pessoas, diz a organização Médicos sem Fronteiras

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A travessias dos Balcãs faz-se agora com neve e temperaturas negativas Marko Djurica/Reuters

A organização Médicos sem Fronteiras (MSF) exige que a União Europeia crie “passagens seguras” para os requerentes de asilo que querem chegar à Europa e denuncia “o fracasso catastrófico” da gestão da crise migratória por parte das instituições europeias e dos governos dos Estados-membros.

Num relatório publicado nesta terça-feira, com base em testemunhos de migrantes e dos funcionários dos MSF no terreno, a organização considera que “os obstáculos que a UE e os governos europeus colocaram na rota de mais de um milhões de pessoas” só serviram para piorar a sua situação ao longo do ano que passou.

Com o inverno definitivamente instalado, as Nações Unidas alertaram esta terça-feira para o risco de milhares de crianças refugiadas que estão em trânsito poderem vir a morrer de frio nas próximas semanas, em que se esperam temperaturas negativas abaixo do normal e fortes nevões nos Balcãs e na Turquia.

Muitas crianças que estão a atravessar o Egeu chegam à Grécia com roupas leves, completamente encharcadas e geladas, disse Christophe Boulierac, da Unicef à agência AFP. Depois avançam pela Europa fora sem roupas adequadas e sem terem acesso a uma alimentação suficientemente nutritiva. “O risco [de morrerem de frio] é muito, muito elevado”, disse Boulierac.

O documento da MSF critica, entre outras coisas, a ausência de “uma alternativa oferecida para evitar uma travessia marítima mortífera” para aqueles que fogem da guerra, as barreiras que foram erguidas na Europa, bem como a “evolução permanente” dos procedimentos burocráticos de registo para os requerentes de asilo que chegam a território europeu.

A organização MSF também denuncia “as condições de acolhimento completamente inadequadas em Itália e na Grécia” e explica que, por causa dos “muros” construídos um pouco por toda a Europa, os seus voluntários bem como outras organizações não-governamentais “foram obrigados a intensificar radicalmente as suas actividades nos pontos de entrada na UE”.

Mais de 100 mil consultas no terreno, permitiram à MSF fazer “um balanço dramático das consequências destes obstáculos para a saúde das pessoas, seja física ou mental”, sublinhando que “nunca existiram tantas actividades médicas e humanitárias na Europa”.

Depois do “fracasso catastrófico da União Europeia na sua resposta às necessidades humanitárias dos refugiados, requerentes de asilo e migrantes” em 2015, os europeus “devem fazer o balanço do custo humano das suas decisões, assumir as suas responsabilidades e aprender com os seus erros” em 2016.

“Continuamos a pedir passagens seguras e apelamos à Europa para parar de jogar com as vidas e a dignidade” das pessoas, disse Aurélie Ponthie, conselheira humanitária da MSF, citada no relatório agora publicado.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, criticou na semana passada os países da UE que “não cumpriram os seus compromissos” na repartição dos refugiados no espaço europeu a partir da Itália e da Grécia. Os números actuais da Comissão Europeia mostram que, dos 160 mil requerentes de asilo que deviam ser relocalizados um pouco por toda a Europa, apenas 322 foram efectivamente acolhidos em alguns países.

 

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