Nuno Melo desistiu por temer a “balcanização” do CDS

Eurodeputado irá apoiar Assunção Cristas como candidata à liderança do partido.

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Nuno Melo no anúncio desta quinta-feira Miguel Manso

O eurodeputado Nuno Melo decidiu não avançar para a liderança do partido com a justificação de que “há pessoas em melhores condições” e que a desilusão causada pela sua desistência será o “preço a pagar” para o CDS “não se balcanizar”, o que poderia acontecer, se houvesse duas candidaturas. Assumindo-se como “factor de união”, o vice-presidente declarou apoio a Assunção Cristas, que deverá anunciar nesta quinta-feira a sua candidatura à liderança do partido.

Depois de duas semanas de reflexão – desde que Paulo Portas anunciou que não se recandidataria a líder do CDS  –, Nuno Melo dá lugar a outro, ou seja, à ex-ministra da Agricultura. “Entendi existirem outras pessoas em melhores condições do que eu para serem candidatos à liderança do CDS. São muitos os nomes, o CDS nunca foi o partido de um homem só. O nome da doutora Asssunção Cristas tem sido incontornável”, afirmou o eurodeputado esta quinta-feira, numa declaração aos jornalistas na sede do partido.

Depois de agradecer aos muitos militantes que o incentivaram a avançar, Nuno Melo afirmou querer unir mais do que dividir o partido, por ser também o que merece o fim da era de Portas. “Tenho noção de que, não me candidatando, desiludia muita gente. Não tenho dúvidas disso. Se esse for o custo que tiver de pagar para garantir que o CDS não se balcanizará, não se radicalizá em conflitos, [seja]. Se eu puder ser, como quero, factor de unidade e coesão para dar mais força ao CDS nos desafios futuros, assim será”, disse, acrescentando que essa atitude também se justifica “com o fim de ciclo de Paulo Portas”.

O dirigente assume que tinha “vontade”, mas que “para lá disso” tem de ter “a capacidade de ler” as suas “circunstâncias”. “Sou eurodeputado, candidatei-me para um mandato que irei cumprir. Não posso exigir para mim menos do que em tempos pedi a outros”, disse, numa alusão à crítica que fez a José Ribeiro e Castro, quando este acumulava a presidência do partido com o mandato de eurodeputado. Por outro lado, defende que o futuro líder deve estar no Parlamento para debater com o primeiro-ministro. Melo é nome suplente em último lugar pela lista de Braga e para assumir o lugar obrigava a que pessoas à sua frente renunciassem. “Não posso nem devo dispor dos mandatos de terceiros”, justificou.

O actual vice-presidente do CDS lembrou que conhece “profundamente” o partido, que fez a “escadaria toda” e que não entrou pela “mão” de ninguém, uma farpa que pode ser entendida como dirigida a Assunção Cristas, que foi para o CDS por iniciativa de Portas. Mas acabou por elogiar a ex-ministra – “excelente” –, que terá o seu apoio. “Sendo mulher, marcará uma diferença em relação à liderança de Paulo Portas, que eu nunca conseguiria. E o CDS precisa dessa diferença”, disse, repetindo que a imagem que a dirigente tem na comunicação social lhe permitirá um “estado de graça” maior do que teria ele mesmo.

Apesar de não avançar, Melo defendeu que o CDS será um “partido de portismo sem Paulo Portas”. “O pior serviço seria repetir os gestos e imitar o trajecto de Paulo Portas”, disse, repetindo a ideia que já tinha deixado na entrevista na RTP3 desta quarta-feira à noite.

Nuno Melo, 49 anos, é advogado de profissão, e é filiado no partido desde o princípio dos anos 1990, tendo sido presidente da concelhia de Vila Nova de Famalicão e presidente da distrital de Braga durante uma década.

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