Marisa Matias: garantir os direitos dos surdos é garantir a democracia

A candidata do BE esteve na Amadora, onde teve uma aula de língua gestual portuguesa e onde lhe disseram que não acautelar os direitos dos surdos dificulta o acesso à informação e contribui para a abstenção.

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Marisa Matias durante a visita à sede da Federação Portuguesa das Associações de Surdos, na Amadora Guilherme Marques

Na sede da Federação Portuguesa das Associações de Surdos, na Amadora, com a ajuda de uma intérprete, a candidata presidencial apoiada pelo Bloco de Esquerda quer saber por que razão o nome dela passa, em língua gestual portuguesa, por deixar cair a mão junto ao rosto ou ao cabelo. Tem a ver com o facto de ter o cabelo comprido e escorrido, explicam-lhe. Na manhã desta terça-feira, Marisa Matias e os apoiantes da candidatura tiveram uma pequena aula: aprenderam a dizer bom dia, os nomes. A bater palmas – agita-se as mãos. Até ficaram a saber como se diz Marcelo, o nome do candidato rival da direita.

O presidente da federação, Pedro Costa, agradece o interesse da candidata nesta comunidade, quer que as preocupações e dificuldades dos surdos cheguem a Belém. E elas passam por vários aspectos, entre as quais o acesso à informação. Haver, por exemplo, nos debates televisivos entre candidatos, um intérprete e legendagem. Não conseguirem aceder plenamente à informação interfere com o direito ao voto e contribui para a abstenção, alertam.

O vice-presidente Amílcar Morais aproveita a presença da candidata e de vários jornalistas para comparar a forma como aparecem os intérpretes de língua gestual portuguesa nos canais de televisão portugueses e lá fora. Dá como exemplo um debate em Espanha e um outro momento informativo na BBC. De facto, o quadrado onde aparece o intérprete é muito maior naqueles canais do que cá. “Agora imaginem o que é olhar várias horas para este pequeno quadrado”, lamenta Amílcar Morais.

Os membros da federação fazem ainda um outro pedido à comunicação social: “Somos surdos, não somos surdos-mudos. Evitem esses termos. E a língua gestual portuguesa é uma língua oficial, não é uma linguagem.” Lamentam que ainda haja “muito a fazer em Portugal”.

Para Marisa Matias, é “obrigatório” que estas preocupações entrem no exercício do cargo de Presidente da República. No final, aos jornalistas, diz que existe “legislação boa em Portugal para garantir a igualdade dos surdos”, o problema é não ser posta “em prática”. O problema é que as preocupações que lhe transmitiram nesta manhã são as mesmas “há muito tempo”. O problema é estas pessoas “não serem visíveis, não poderem participar de forma activa em termos de cidadania”. E enumerou, entre outras, “questões tão básicas como, por exemplo, não terem acesso ao 112”.

“Não conseguiríamos imaginar o que seria a nossa vida quotidiana sem ter acesso a estes direitos também tão básicos. Eles existem na legislação, garantir o funcionamento das instituições e da democracia é garantir isto, é que não fica ninguém de fora”, defendeu a candidata presidencial.

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