Democracia sem exigência

O escrutínio sobre os candidatos presidenciais é deficiente.

Quando se olha para trás, é perfeitamente claro que não há eleições presidenciais comparáveis às actualmente em curso. Nem as circunstâncias políticas nem o tipo de candidaturas se assemelham a tudo o que antes se passou. Para já, é muito perturbador perceber-se que há como que uma menorização difusamente assumida de que a Presidência da República perdeu pontos no grau de importância que os portugueses lhe atribuem. Isso pode medir-se pela “abstenção” dos chamados “candidatos naturais”, resultante da “incapacidade” de Cavaco Silva gerar consensos e alargar a sua influência para lá dos muros ideológicos do palácio de Belém, como notava Carlos Gaspar na nossa edição de domingo. Ou pode dever-se a uma mudança da natureza do regime, descontrolada e de sentido pouco claro, cujos sinais mais evidentes radicam na fragmentação dos resultados de 4 de Outubro, na análise de Joaquim de Aguiar, na mesma edição. Mais prosaicamente, esta relativa indiferença global à escolha do próximo Presidente também não se deve desligar do cansaço do eleitorado, exausto de crises políticas e desconfiado de métodos, protagonistas e soluções.

Independentemente do que esteja a acontecer à superfície ou nos pilares definidores do sistema político, a verdade é que temos dez candidatos a sufrágio e um deles será o próximo Presidente. Alguns dos que se apresentaram são totalmente desconhecidos da opinião pública, os outros têm uma amplitude de mediatização muito diversa. Foram todos suficientemente escrutinados na coerência dos seus percursos pessoais, profissionais e políticos? É óbvio que não e os debates permitiram detectar muitas contradições. Mas tudo fica mais claro quando se consulta o registo de interesses que cada um tem obrigatoriamente de depositar no Tribunal Constitucional (págs. 10/11). Há omissões e dados que devem ser bem explicados, e estas falhas, para além de tudo mais, são sinais de que continuamos demasiado permissivos, pouco rigorosos e nada exigentes.

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