Cartas da Guerra a concurso em Berlim 2016

Adaptação de António Lobo Antunes por Ivo Ferreira faz parte da selecção oficial do certame alemão, a par dos novos filmes de André Téchiné, Gianfranco Rosi ou Thomas Vinterberg.

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Quatro anos depois de Tabu, de Miguel Gomes, uma nova longa-metragem portuguesa é escalada para a competição oficial do Festival de Berlim. Cartas da Guerra, a adaptação ao cinema por Ivo Ferreira da correspondência de António Lobo Antunes durante a Guerra Colonial publicada como D'este Viver Aqui Neste Papel Descripto, terá a sua estreia mundial a concurso na edição 2016 do certame alemão, naquele que promete ser um dos anos mais fortes da Berlinale em tempos recentes.

Cartas da Guerra junta-se no concurso de Berlim aos novos filmes dos franceses Mia Hansen-Løve e André Téchiné, do filipino Lav Diaz (vencedor de Locarno 2014), do italiano Gianfranco Rosi (vencedor de Veneza 2013) e do dinamarquês Thomas Vinterberg (A Caça). Ao todo, nove filmes foram anunciados esta segunda-feira para o programa competitivo do festival, que terá este ano lugar entre 11 e 21 de Fevereiro, a par dos títulos de Denis Côté, Jeff Nichols e Alex Gibney  já anunciados há algumas semanas.

Cartas da Guerra é a terceira longa-metragem de ficção de Ivo Ferreira (n. 1975) após Em Volta (2002) e Águas Mil (2009) – neste último filme, o realizador evocava já o período pré-25 de Abril através de uma história relacionada com os tempos da resistência ao regime. O novo filme, parcialmente rodado em Angola, foi escrito por Ferreira e pelo seu habitual colaborador Edgar Medina e cria uma narrativa à volta das cartas escritas por António Lobo Antunes à sua esposa Maria José após a sua incorporação no exército em 1971 e envio para Angola. As personagens do escritor e da sua mulher são interpretadas por Miguel Nunes e Margarida Vila-Nova.

Curiosamente, Cartas da Guerra é, tal como Tabu, uma produção da O Som e a Fúria de Sandro Aguilar (igualmente montador do filme e colaborador regular do realizador), e foi rodado a preto e branco. Antes de Tabu, remontava a 1999 a última presença de um filme português a concurso em Berlim (Glória, de Manuela Viegas). Em 2012, o filme de Miguel Gomes venceu o prémio Alfred Bauer para melhor contribuição artística, no mesmo ano em que Rafa de João Salaviza venceu o Urso de Ouro das curtas-metragens.

A presença de Ivo Ferreira em Berlim prolonga a presença regular do cinema português em festivais internacionais: no ano passado, entre muitos outros, a Quinzena dos Realizadores de Cannes recebeu As Mil e Uma Noites de Miguel Gomes, a Semana da Crítica de Veneza Montanha de João Salaviza, Locarno teve a co-produção portuguesa Cosmos no concurso principal e a Viennale programou uma homenagem a Manoel de Oliveira. 

Cartas da Guerra estará a concurso naquela que promete desde já ser uma das edições mais fortes de Berlim nos últimos anos, perante um júri presidido pela actriz Meryl Streep. A par do filme de Ivo Ferreira, a organização anunciou igualmente mais oito outros títulos a concurso. O destaque inicial vai para A Lullaby to the Sorrowful Mystery, a nova ficção do filipino Lav Diaz, cujo From What Is Before venceu Locarno em 2014, e Fire at Sea, o novo documentário de Gianfranco Rosi. O italiano, vencedor do Leão de Ouro em Veneza 2013 com Sacro GRA e do DocLisboa 2010 com El Sicario Room 164, debruça-se aqui sobre o quotidiano da ilha de Lampedusa, que está na “linha da frente” da crise migratória.

A francesa Mia Hansen-Løve (Éden) apresenta L'avenir, com Isabelle Huppert no papel de uma professora de filosofia que enfrenta o divórcio do marido, enquanto o veterano André Téchiné mostra Quand on a 17 ans, com Sandrine Kiberlain e Kacey Mottet Klein, escrito com Céline Sciamma (a realizadora de Bando de Raparigas). E o dinamarquês Thomas Vinterberg, velho cúmplice de Lars von Trier que já esteve por várias vezes a concurso em Berlim, sucede à sua adaptação mal recebida de Longe da Multidão de Thomas Hardy com The Commune, história vagamente auto-biográfica sobre um casal que cria uma comuna à volta da sua casa de Copenhaga. 

O lote de novas adendas ao concurso completa-se com o filme iraniano do actor e realizador Mani Haghighi, A Dragon Arrives, Death in Sarajevo do bósnio Danis Tanovic e United States of Love do polaco Tomasz Wasilewski. Estes títulos juntam-se aos anteriormente anunciados novos filmes do canadiano Denis Côté (Boris sans Béatrice), e dos americanos Jeff Nichols (Midnight Special) e Alex Gibney (Zero Days).

O festival, que decorre de 11 a 21 de Fevereiro, abrirá com o novo filme dos irmãos Joel e Ethan Coen, Salve, César!, e mostrará igualmente o novo documentário de Michael Moore, Where to Invade Next.

 

 

 

 

 

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