Directores do Fantasporto condenados por difamarem jornalista da Visão

Casal obrigado a pagar multa de 1120 euros e uma indemnização de 2000 euros ao jornalista Miguel Carvalho.

Foto
Advogado dos directores do Fantasporto deixa implícito que irá recorrer da sentença.

Os directores do festival de cinema Fantasporto, Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira, foram condenados esta quinta-feira por uma secção criminal do tribunal da comarca do Porto a pagarem 3120 euros num processo-crime por difamação intentado pelo jornalista da Visão Miguel Carvalho.

O tribunal condenou o casal que dirige a cooperativa que organiza o festival numa pena de multa de 1120 euros por terem cometido o crime de difamação e a pagarem ao jornalista uma indemnização de 2000 euros "a título de reparação dos danos não patrimoniais sofridos".

Contactado pelo PÚBLICO, o advogado do casal, Rui Barroso dos Santos, deixou implícita a intenção de recorrer da decisão. “Não vou prestar declarações, mas os jornalistas e o resto das pessoas terão em breve conhecimento dos desenvolvimentos deste caso”, afirmou, convidando o PÚBLICO a tirar as ilações da afirmação, sem adiantar mais nada.

Na base deste processo está um comunicado de Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira emitido a 6 de Setembro de 2013, onde estes reagiam a um artigo publicado no dia anterior pela Visão sobre alegadas ilegalidades na gestão financeira da cooperativa Cinema Novo, que organiza o Fantasporto.

A nota deixava implícito que o artigo, assinado pelo jornalista Miguel Carvalho, tinha motivações políticas, referindo uma proposta do casal para que a Câmara Municipal do Porto, então liderada por Rui Rio, entrasse na Fundação do Fantasporto, que estava então em criação, e que ficou sem qualquer resposta. Fazendo alusão ao facto de a secretária da Visão ser mulher de Rui Rio, rematava-se: “estará descoberta a pista que nos levará à origem da peça. E os seus propósitos ínvios também”.

O artigo da Visão dava conta de uma denúncia enviada ao Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) sobre eventuais ilegalidades na organização do festival de cinema Fantasporto, nomeadamente fuga ao IVA e falsificação do número de espectadores. A denúncia acabou por dar origem a dois inquéritos judiciais.

Uma das investigações desencadeadas pelo Ministério Público acabou por ser arquivada há uns meses, mas permitiu revelar vários desvios nas contas do Fantasporto. Para o Departamento de Investigação e Acção Penal do Porto, não restaram dúvidas de que se registou o crime de fraude fiscal, mas Mário Dorminksy e a sua mulher pagaram 87 mil euros do montante em dívida, e o processo foi arquivado. 

Em causa estão a transferência de verbas da bilheteira para uma conta de Beatriz Pacheco Pereira, o uso do cartão de crédito da cooperativa para gastos pessoais e o pagamento de quantias ao casal não declaradas ao fisco. O outro inquérito acabou arquivado por não terem sido encontrados indícios de burla à Segurança Social e um terceiro, cujo conteúdo não se conheçe porque está em segredo de justiça, continua em investigação.

Na sentença datada desta quinta-feira, o tribunal diz ter ficado demonstrado que os arguidos, “desagradados com o teor da peça jornalística publicada na revista Visão em 5 de Setembro de 2013 redigiram e enviaram à agência Lusa para divulgação" um comunicado em que "pretenderam dizer e disseram que a origem da peça e os seus propósitos ínvios não eram outros senão os políticos, ou seja, denegrir duas pessoas que eram apoiantes de uma candidatura à Câmara Municipal do Porto, para a prejudicar e beneficiar a candidatura sua oponente". Isto porque Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira eram apoiantes da candidatura de Luís Filipe Menezes à camara do Porto, que não contava com o apoio de Rui Rio. Recorde-se que antes Dorminsky fora vereador da Cultura em Vila Nova de Gaia, num executivo liderado por Menezes. 

"Sendo a peça escrita por um jornalista, pretenderam dizer e disseram que o autor da peça era parcial e não isento porque os seus motivos eram os acima descritos", avalia a sentença, que considera que tais considerações traduzem juízos “objectivamente lesivos da dignidade profissional do ora assistente, que como jornalista tem o dever de informar de forma isenta".

O casal Dorminsky também apresentou, em Setembro de 2013, uma queixa-crime contra o jornalista Miguel Carvalho por difamação, mas, segundo a sentença, a mesma ainda está a correr nos serviços do Ministério Público de Gaia.

Sugerir correcção
Comentar