Marisa Matias: Se há dinheiro para o Banif, também tem de haver para o SNS

Para a candidata, a morte do idoso vítima de AVC que foi transferido do Algarve para Coimbra é “mais uma situação que está relacionada com o ciclo de empobrecimento, da austeridade” que “tem consequências concretas na vida das pessoas concretas”.

A candidata presidencial apoiada pelo Bloco de Esquerda, Marisa Matias, defendeu nesta segunda-feira “um investimento directo e concreto no Serviço Nacional de Saúde (SNS)” para evitar situações como as que levaram à morte de utentes. E não lhe apresentem o argumento de que não há dinheiro: “Dois mil e duzentos milhões de euros no Banif, numa tranche, num dia. O equivalente ao corte que foi feito no SNS”, afirmou, à margem de uma reunião com a CGTP.

Marisa Matias comentava o último caso ocorrido na saúde: depois de ter permanecido vários dias em coma, morreu o homem de 74 anos que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e foi encaminhado do hospital de Faro para o de Coimbra, porque o São José, em Lisboa, se terá recusado a recebê-lo. Para a candidata, é “mais uma situação que está relacionada infelizmente com o ciclo de empobrecimento, da austeridade”, que “tem consequências concretas na vida das pessoas concretas”.

“Se há dois mil e duzentos milhões de euros, num dia, para o Banif, tem de haver para todos os dias, para todos os profissionais e para todas as pessoas que aqui vivem e que têm direito a um SNS universal e gratuito", defendeu a candidata. Que rejeita o cenário de "[uma] saúde para pobres e [outra] para ricos".

A bloquista considera ainda que "não pode haver profissionais maltratados e, sobretudo, não pode haver mortes causadas precisamente por uma lógica que nada tem a ver com a salvaguarda dos direitos, nada tem a ver com consolidação de contas públicas, que continuam por consolidar". Na sua opinião, “tem exclusivamente a ver com opções ideológicas que colocam sistematicamente os interesses dos mercados e os interesses económicos à frente da vida das pessoas”.

Valorizar o trabalho com a CGTP
A reunião com a CGTP decorreu num clima de concordância, como reconheceu o próprio secretário-geral da confederação. “Precisamos de valorizar o trabalho e os trabalhadores, precisamos de recentrar novamente o mundo do trabalho na dinamização da economia e, particularmente, precisamos de dar um destaque cada vez mais importante à contratação colectiva”, disse Arménio Carlos, para quem “os trabalhadores e a população em geral” devem participar “activamente nesta mudança”.

Para Arménio Carlos, “a pior coisa que podia acontecer” era a sociedade ficar “numa expectativa paralisante”. Por isso, alerta: “Nunca os trabalhadores conquistaram rigorosamente nada que não fosse pela sua intervenção, pela sua acção, pela sua luta, é este o momento certo para poderem dar esse contributo.”

O dirigente da CGTP acrescenta que, “se é verdade que tem de haver uma calendarização para a concretização das promessas e a sua efectivação, também é verdade que as reivindicações dos trabalhadores não podem constituir uma réplica das obras de Santa Engrácia, em que ficam para o dia de São Nunca à tarde”.

Marisa Matias não podia estar mais de acordo com a “defesa” dos direitos do trabalho. Além disso, acrescenta, “é absolutamente fundamental em qualquer campanha, e as presidenciais não são excepção, mostrar o país invisível”.

“Não há possibilidade de se fazer uma campanha sem se falar dos problemas do país, ela existe precisamente para mostrá-los e para mostrar que há soluções concretas que se podem e devem fazer avançar. Não é por acaso que o direito ao trabalho ocupa um lugar central na Constituição”, afirmou.

E é por isso que defende que o Presidente da República tem um papel a desempenhar nesta matéria: “É muito importante contar com todas as partes envolvidas e empenhadas na sociedade, o Chefe de Estado não é excepção para garantir que o trabalho é mesmo tido como um direito acessível a todos.”

A candidata aproveitou ainda para dizer que “a reposição dos salários e das pensões é das melhores notícias” que Portugal teve nos últimos anos. E que “a relação” do Chefe de Estado com qualquer Governo “tem de ser uma relação de cooperação e de lealdade institucional, seja qual for o Governo”.

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