Costa não quer uma bancada socialista acrítica nem seguidista

Líder socialista diz que o país se “habituou (e mal)” a que o Governo se fazia com dois ou três partidos e defende que o PS acabou com a assimetria entre o poder que direita tinha para governar e o que a esquerda não tinha.

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Costa: “Hoje todos os deputados e deputadas do Parlamento contam por igual” Enric Vives-Rubio

Dezasseis horas antes de se estrear nos debates quinzenais na Assembleia da República como primeiro-ministro, António Costa disse aos deputados socialistas que não quer uma bancada parlamentar do PS “acrítica” ou de “seguidismo”, mas espera que, além do apoio ao Governo, também faça tenha “capacidade de iniciativa” e “acção crítica em relação à tarefa legislativa”.

Defendendo que o PS “foi capaz de inovar no relacionamento entre os partidos no quadro da Assembleia da República”, António Costa apontou também que “durante muitos anos, o país habituou-se (e mal) que o Governo se fazia a dois ou a três - mas sempre só a três forças políticas -, e isso distorceu o funcionamento e empobreceu a democracia; criou uma enorme assimetria em Portugal: a direita que facilmente governava e a esquerda que dificilmente conseguia governar”.

O cenário, vincou, é agora diferente graças ao trabalho do PS: “Hoje todos os deputados e deputadas do Parlamento contam por igual.” O partido e o Governo têm “boas condições para olhar o futuro com confiança”, defendeu António Costa apesar de, admitiu, “o presente estar cheio de obstáculos”. Destacando a nomeação de Ana Catarina Mendes como secretária-geral-adjunta do partido – uma medida para “combater a desertificação do partido e a governamentalização da acção política” – Costa considerou fundamental que a bancada parlamentar socialista “mantenha a sua vida própria com capacidade de iniciativa, com capacidade de diálogo com outras forças políticas, no acompanhamento do Governo no apoio e também na acção crítica à acção governativa”. “Não há nada pior para quem governa do que se ir deixando isolar e ficar fechado nos seus próprios gabinetes”, acrescentou.

“O apoio que quero ter do grupo parlamentar não é o apoio acrítico, de seguidismo; mas o apoio que o Governo merece e precisa de ter: apoio empenhado, aplaudindo quando é de aplaudir, mas criticando quando é de criticar”, apontou António Costa.

O líder socialista enalteceu o trabalho de negociação dos deputados do PS que “permitiu a formação” do Governo e enumerou algumas medidas propostas pela bancada socialista em diplomas já aprovados na generalidade na Assembleia da República – como o fim dos exames do 4º ano, o fim da prova de avaliação para professores, o direito à adopção por casais do mesmo sexo ou as alterações à lei do aborto. Referiu-se também à questão da redução da sobretaxa do IRS e da reversão dos cortes salariais na função pública que ainda esta semana vão a votação.

O primeiro-ministro e secretário-geral do PS chegou ao jantar de Natal do grupo parlamentar do PS, no refeitório dos frades, na Assembleia da República, com mais de uma hora de atraso em relação à hora prevista devido à demorada reunião que envolveu os representantes dos partidos com assento parlamentar, o ministro das Finanças Mário Centeno e uma equipa do Banco de Portugal liderada pelo governador, Carlos Costa. No jantar, além de deputados e funcionários do grupo parlamentar, estiveram também diversos ministros, como Augusto Santos Silva (Negócios Estrangeiros), Maria Manuel Leitão Marques (Presidência e Modernização Administrativa), Francisca Van Dunem (Justiça), Alberto Campos Fernandes (Saúde), Azeredo Lopes (Defesa Nacional), Tiago Brandão Rodrigues (Educação) e Pedro Marques (Planeamento e das Infraestruturas).

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