Quase metade das escolas melhorou os seus resultados nos exames do 4.º ano

Feitas 194.174 provas de Português e de Matemática, as raparigas saem-se melhor e os privados têm média mais alta.

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Crianças trabalhavam, mesmo nas férias, para responder às provas ADRIANO MIRANDA

Foi há três anos que mais de 100 mil alunos do 4.º ano fizeram, pela primeira vez em democracia, exames nacionais a Português e a Matemática. A média desse primeiro ano foi de 2,81 (numa escala de 1 a 5). Três anos passados a média é positiva, 3,25 valores, e quase metade das escolas (45%) melhorou de ano para ano. A maioria já tinha este ano programado para voltar a responder aos exames em Maio. Mas não vai ser preciso, pois o Parlamento decidiu que as crianças vão deixar de ser avaliadas externamente no final do 1.º ciclo.

A análise dos dados fornecidos pelo Ministério da Educação permite confirmar que diminuiu o número de escolas e o de crianças. Há três anos eram 4609 estabelecimentos de ensino, no ano lectivo passado eram 4173. No primeiro ano foram feitas 211.329 provas, dois anos depois 194.174. A maioria das escolas tinha 25 ou menos alunos a fazer o exame, mas apenas 1348 estão incluídas no ranking  – aquele que contempla os estabelecimentos de ensino onde foram feitas mais de 50 provas. 

Não é novidade e tal como acontece nos ciclos posteriores, também no 1.º, os privados dominam o topo do ranking e os públicos ficam nas últimas posições. As escolas privadas têm uma média geral de 3,80 a Português e 3,63 a Matemática, enquanto as públicas se ficam pelo 3,34 e 3,03. Também não é novo que se desconhecem os dados de contexto dos privados, mas os do público são conhecidos e revelam que as escolas que ficam pior classificadas são aquelas onde estão as crianças mais desfavorecidas e as famílias que recorrem à Acção Social Escolar.

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As meninas ficam melhor do que os meninos – 3,26 contra 3,24. Mas eles saem-se melhor a Matemática (3,15 contra 3,05) e elas a Português (3,47 contra 3,33). A média geral é de 3,40 para Português e 3,10 para Matemática.

Ainda assim, muitas escolas sobem na tabela, ou seja, vão melhorando os seus resultados de ano para ano. Aliás, das actuais 4173 que foram a exame, 1875 subiram todos os anos, representam 45% – a maioria é pública. E de 2014 para 2015 foram 2807 as que melhoraram, contra as 1875 que fizeram essa subida de 2013 para 2014. Apenas 117 escolas (2,8%), a maioria públicas, desceram ao longo dos três anos.

A subida é vista como “natural” pelo presidente do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), Hélder de Sousa. Feitos os exames, as escolas recebem muita informação que é analisada e que deve pôr os professores a trabalhar em conjunto, por isso, é natural que se melhore, justifica.

Veja o ranking completo das escolas

Em Lisboa, na básica Pintor Almada Negreiros, ainda não se chegou à positiva, mas há orgulho na subida de 1,74 (em 2013) para 2. “Treinamos provas, fazemos provas tipo… Há muito investimento, é pedido aos pais para que os ajudem, para que colaborem com os professores. Esta é uma zona muito degradada”, retrata Bernardete Rainho.

Também Célia Almeida, directora do agrupamento Pedro Eanes Lobato, Amora, Seixal, fala de carências – aquele é um Território Escolar de Intervenção Prioritária (TEIP), ou seja, com apoios que outros não têm e, por isso, é que pode ter mais professores a trabalhar com os alunos, desde o pré-escolar, na tentativa de detectar as dificuldades mal elas surjam. E os resultados estão à vista: as quatro das cinco básicas de 1.º ciclo que foram a exame subiram as suas médias e têm positiva.

Nos Açores, em Lagoa, a EB1 Água de Pau melhorou os seus resultados de um 2,02 (2013) para 2,53 (2015) graças ao “enorme esforço que os docentes fazem, muitas vezes esquecendo a sua vida familiar, trabalhando fora do horário, diz Rosa Costa, coordenadora do 1.º ciclo. "Há um grande cuidado em relação aos alunos”, descreve. A escola tem ainda, no âmbito de um programa regional, mais um professor em sala para trabalhar com as crianças com mais dificuldades.

Ir à escola nas férias
As melhorias ficam a dever-se à planificação que as escolas fazem, dizem as mesmas. Por exemplo, a EB Hélia Correia, em Mafra, é a que fez mais provas (302), e teve uma média de 3,23. Não só a escola, mas todo o agrupamento fez um “grande ajuste” e investiu em horas de apoio para os alunos com mais dificuldades, informa a coordenadora Rita Soares. Mas não só. Durante o ano, até à data dos exames, os alunos só aprendem e treinam para os exames de Português e de Matemática – a pedido da escola, todos compram um manual com exames e fazem-nos num contexto semelhante ao dos dias em que os fizerem, para se adaptarem. Mais, as cinco escolas do agrupamento realizam, no final de cada período, à mesma hora, a mesma prova, com critérios de correcção semelhantes aos dos exames, acrescenta Manuela Marques, coordenadora do Agrupamento Escolas de Mafra.

Os meninos de Mafra só aprendiam Estudo do Meio depois de feitos os exames, nas últimas semanas do ano lectivo. Mas não eram os únicos, também os da EB de Penafiel (270 provas, média 3,58) – “o maior centro escolar do país”, informa Clotilde Freire, coordenadora –, trabalhavam as disciplinas que iam a exame, compravam manuais, e, só depois de feitas as provas, os professores se dedicavam ao Estudo do Meio. “Não há exame e por isso fica para depois”, justifica. Mas as crianças começam a ser preparadas para responder aos exames do 4.º ano antes mesmo de lá chegarem. No caso da escola de Penafiel, os meninos fazem os testes intermédios no 2.º ano (também são nacionais e feitos pelo Iave) e isso começa logo a prepará-los, acrescenta Clotilde Freire.

Também os alunos do Colégio Álvaro Vidal – Fundação CEBI, em Alverca (a segunda privada com mais provas, 248, e com média de 3,18) trabalhavam para ter melhores resultados, mesmo nas férias da Páscoa; além de os professores do 2.º ciclo trabalharem em sala de aula com os do 1.º, exemplifica Álvaro Ganhão, coordenador do 1.º ciclo.

Nas férias, as crianças das duas turmas do Externato Infantil Paraíso dos Pequeninos, em Santa Maria da Feira (a primeira do ranking com média de 4,38) fizeram simulações e aprenderam a relaxar, conta Nuno Moutinho, director e professor na Universidade do Porto. ”São mais pequenos e têm menos arcabouço para aguentar” a realização dos exames, justifica.

O treino não choca Hélder de Sousa. Aliás, esse já era feito no tempo das provas de aferição, refere. “Não há mal nenhum em treinar porque vai ajudar os alunos a consolidar, a saber fazer”, diz. Quanto ao stress sentido pelas crianças, aponta que esse só acontece quando induzido pelos adultos. Afinal, as crianças fazem provas desde o 1.º ano.

Acabam os exames e depois?
Para Célia Almeida, do agrupamento da Amora, os exames acabarem não é um problema, a exigência que é pedida vai manter-se, diz. “Nós trabalhamos para que os alunos atinjam a excelência e, por isso, não vamos trabalhar de forma diferente”, declara Álvaro Ganhão, de Alverca. Para Rosa Costa, dos Açores, é “um alívio, um peso que saiu das costas”, mas isso não significa que a forma de trabalhar vá alterar-se: “conheço os docentes, somos rigorosos e vamos continuar a sê-lo”.

Segundo Manuela Marques, de Mafra, o trabalho não vai mudar, afinal a planificação foi feita no início do ano. Mas “os exames não são importantes”, pois quem conhece os alunos são os professores que estão o ano inteiro com eles. Além disso, os exames contam muito pouco – “só tinham lógica se tivessem um grande peso”, defende. O trabalho que se fazia para os exames, vai continuar, diz também Clotilde Freire, de Penafiel: “temos orgulho que eles cheguem bem preparados ao 5.º ano.”

Os exames serviram de “detonador para os colegas do 1.º ciclo, para conferirem mais rigor às aprendizagens”, considera Agnelo Figueiredo, do agrupamento Gomes Eanes Azurara, em Viseu, a segunda escola que mais alunos leva a exame e teve uma média de 3,45, tendo subido consecutivamente. “Há muito trabalho dos professores e, sem falsa modéstia, da direcção para adoptar metodologias de trabalho mais rigorosas”.

“Contrariamente às críticas de que os exames estão associados ao insucesso, connosco foi ao contrário”, diz Agnelo Figueiredo. A retenção terá subido ligeiramente no primeiro ano de avaliação externa, como aconteceu quando os exames do 9.º ano foram feitos pela primeira vez, confirma Hélder de Sousa, mas não é significativa, ressalva. Aliás, o exame vale 30% da nota final, portanto, poucos alunos reprovam por causa deste. Em 2013, 2,38% reprovou a Português e 1,90% a Matemática; este ano 0,03% e 0,08% a Português e a Matemática, respectivamente. "No ano da supressão das provas do 4.º ano, o efeito na aprovação em consequência do exame foi positivo, ou seja, passaram mais alunos do que os que reprovaram", conclui o presidente do Iave.

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