Montepio e Banif contrariam tendência de captação de poupanças

CGD e BPI conseguiram compensar queda dos depósitos na actividade em Portugal com um aumento de outros recursos de clientes até Setembro.

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Os depósitos nos bancos totalizam 167.812 milhões de euros Ricardo Silva

Os principais bancos do sistema financeiro português apresentaram, nos nove primeiros meses do ano, tendências distintas na evolução das poupanças dos clientes. Ao todo, os depósitos captados na actividade em Portugal pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, BPI, Santander Totta, Montepio e Banif totalizaram 147.568 milhões de euros, menos 5873 milhões do que no mesmo período do ano passado (uma queda de 3,8%).

Deste grupo de seis bancos (onde não se incluiu o Novo Banco, que apenas divulgou os resultados do primeiro semestre), só o Montepio e o Banif apresentaram ao mesmo tempo uma diminuição dos depósitos e dos recursos totais dos clientes (que inclui outro tipo de aplicações) na sua actividade doméstica.

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O Santander Totta e o BCP conseguiram aumentar os depósitos em relação aos nove primeiros meses de 2014. E se a CGD e o BPI viram os depósitos encolher, compensaram essa diminuição com outros produtos de poupança, conseguindo fazer com que o montante dos recursos totais dos clientes continuasse a aumentar.

Deste lote de bancos, o Santander Totta foi o único que cresceu tanto em depósitos (2,9%) como, de forma ténue, no total dos recursos de clientes (0,8%). Já o BCP apresentou um reforço ligeiro dos depósitos (0,7%), mas uma descida no valor global dos recursos de clientes (1,1%).

A economista Teresa Gil Pinheiro, do departamento de estudos do BPI, nota que tem havido uma “compensação dos depósitos para outros produtos” com taxas de rentabilidade maiores, o que se tem traduzido, nomeadamente, num “movimento de aumento nas aplicações do Estado” (certificados de aforro e do tesouro). Isto ao mesmo tempo em que se assistiu a um aumento do peso dos depósitos à ordem, a um aumento do consumo e a uma queda da taxa de poupança para 5%, um valor historicamente baixo.

A Caixa Económica Montepio Geral apresentava no final do terceiro trimestre 12.479 milhões de euros em depósitos, menos 10,7% do que no período homólogo (13.969 milhões) e menos 4,9% do que o valor registado no final do primeiro semestre deste ano. A queda mais significativa aconteceu nos depósitos de empresas e institucionais, já que no segmento dos particulares – que vale mais de dois terços do total – houve um recuo de apenas 3,2%.

Competição entre bancos
No relatório e contas relativo ao terceiro trimestre, o banco liderado por José Félix Morgado sublinhava as taxas de juros  “historicamente baixas” e que isso conduz a "uma intensa competição entre os diferentes bancos”. O banco justificava ainda esta descida com o facto de ter adoptado “uma rigorosa política de repricing dos depósitos, com particular impacto nos segmentos de empresas e institucionais, traduzindo-se no crescimento das operações de mercado substituindo recursos mais onerosos de clientes institucionais”. A diminuição dos depósitos, numa altura em que se assistiu a uma queda da poupança das famílias, foi acompanhada noutros títulos colocados juntos dos clientes, fazendo com que o total dos recursos também tenha recuado 12,3% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, para 14.980 milhões de euros.

No caso do Banif, os depósitos (6182 milhões de euros) estavam no final do terceiro trimestre 7,7% abaixo do valor homólogo (menos 516 milhões). A redução é justificada pelo banco com o encerramento das 43 agências este ano. “Estrategicamente, o Banif tem continuado a prosseguir uma redução do custo de funding direccionando a oferta para produtos de poupança normalizados em detrimento dos depósitos a prazo com taxa negociada”, justifica o banco.

A CGD, que concentra 54.623 milhões de euros em depósitos na sua actividade em Portugal, também teve uma queda de 7,2%. E o BPI teve um recuo de 2% (para 18.819 milhões). Mas os dois bancos conseguiram compensar esta descida com uma diversificação de outros recursos de clientes. A actividade do banco liderado por Fernando Ulrich contou, por exemplo, com um crescimento homólogo de 47,2% no montante de obrigações colocadas junto dos clientes (para 362 milhões de euros) e um reforço de 27,5% nos PPR e segundos de capitalização (para 5917,4 milhões de euros).

Apesar de terem recuado no conjunto destes seis bancos, o valor global dos depósitos e equiparados contabilizado pelo Banco de Portugal melhorou face ao período homólogo. Os depósitos de empresas e particulares totalizavam 167.812 milhões de euros no final de Setembro, mais 2,4% do que no mesmo período de 2014.

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