É preciso procurar

Quanto mais dizem mal do YouTube mais eu tenho medo. Neste momento temos lá anos inteiros de documentários, concertos e entrevistas em que há filósofos, escritores e músicos que doutro modo não veríamos.

A Google anda agora a ver se transforma o YouTube numa Netflix e só espero que o serviço gratuito, até aqui suportavelmente contrabalançado por anúncios irritantes (e cada vez mais compridos), não seja injustamente debilitado.

Sinto que ninguém quer falar em documentos interessantíssimos que lá estão com medo que os detentores dos direitos mandem retirá-los, o que acontece cada vez mais...

Esta semana tenho-me espantado com a inteligência, espontaneidade e sentido de humor de Miles Davis. Mesmo quando as perguntas são tontas ele salva-as e torna-as curiosas. Herbie Hancock, também no YouTube, conta a história de um concerto em que ele tocou um acorde errado e que Miles Davis, compondo instantaneamente, conseguiu transformar no acorde certo.

Ou Miles Davis a definir Prince como uma mistura de James Brown, Jimi Hendrix, Marvin Gaye e Charlie Chaplin. Ou então a explicar o que mais o irrita quando os polícias mandam parar o Ferrari que ele conduzia: é eles aproximarem tanto as caras da cara dele. Reduz aristocraticamente o racismo a uma questão de hálito e de incómoda proximidade física dos bárbaros.

É mentira que Miles é dado a silêncios. Quando quer falar fala com o génio com que toca. Se não fosse o YouTube como é que saberíamos?

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