E tudo a crise política levou

As presidenciais foram cilindradas pela crise política. Escasseia tempo para o debate

Já é quase uma certeza. O CDS-PP marcou um Conselho Nacional para quinta-feira, dia 10, para decidir as presidenciais, no mesmo dia em que PSD também reunirá os conselheiros nacionais para declarar apoio ao professor. O PSD também deverá aproveitar para fixar já as datas das eleições directas para Março e o congresso ordinário para Abril. E agora que a direita finalmente abraça a candidatura de Marcelo, não deixa de ser interessante recuar a um outro congresso do PSD, o de Janeiro de 2014, em que Pedro Passos Coelho levou uma moção em que definia o perfil que queria para um candidato a Belém. Ou melhor, o perfil que não queria: não ser um "protagonista catalisador" ou um "catavento de posições erráticas em função da mera mediatização".

Na altura, Marcelo Rebelo de Sousa enfiou a carapuça e até admitiu desistir de Belém. Mas pouco tempo durou o amuo do professor, que apareceu de surpresa no tal congresso, fez um discurso a puxar pela emoção e colocou todos os congressistas a aplaudi-lo de pé. Percebeu que tinha grande parte do PSD com ele, não obstante a má vontade do líder. Pelo caminho, conseguiu montar uma armadilha, deliberada ou não, que foi a de fazer vingar a sua tese de que os candidatos à Presidência só deveriam “aparecer” após a data das legislativas de 4 de Outubro. Enquanto isso, o próprio ia “aparecendo” nos seus comentários dominicais na TVI, nunca desvendado o segredo mais mal guardado do mundo, de que ele próprio seria candidato a Belém.

Com isto conseguiu elevar ainda mais os seus níveis de popularidade, enquanto os restantes iam contando, fora do palco mediático, os dias que faltavam para 4 de Outubro. Marcelo chega ao dia das legislativas, segundo uma sondagem da Intercampus para o PÚBLICO, com a eleição ganha à primeira volta.

Quando se pensou que finalmente o país iria começar a falar de presidenciais, eis que se instala uma crise política que aparentemente terá terminado esta semana com a entrada em funções do novo Governo de António Costa. Um novo hiato na campanha das presidenciais que novamente beneficiou quem já estava bem colocado, ou seja, Marcelo.

Ainda esta semana, Pedro Santana Lopes lamentava o “pouco esclarecimento” e o facto de a campanha para as presidenciais estar “um pouco desaparecida”, um fenómeno que se agravará com aquilo que Maria de Belém há dias classificava de “fadiga eleitoral”, pelo facto de haver dois actos eleitorais tão próximos. E o Natal pelo meio ajuda ainda menos.

Sobrarão alguns dias de Janeiro para debate, discussão, confronto, apresentação de ideias e para que os outros candidatos mostrem aquilo que valem, e para que Marcelo não tenha uma passadeira vermelha no caminho para Belém. Agora com o apoio oficial do PSD e do CDS-PP, Marcelo não ganhará propriamente mais notoriedade, mas se precisar passa a ter acesso à estrutura e às máquinas dos dois partidos. O que não é um pormenor na recta final da campanha.

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