Queda da economia brasileira é pior do que previsões

Alguns dos índices económicos são os piores em 20 anos. Inflação, desemprego e crise política têm impacto negativo na economia.

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Dilma Rousseff recebeu mais uma má notícia nesta terça-feira Adriano Machado/Reuters

A situação da maior economia da América Latina é pior do que as previsões apontavam para este ano, prometendo agravar o pessimismo que já tomou conta das conversas no dia-a-dia dos brasileiros. O produto interno bruto (PIB) brasileiro caiu 3,2% entre Janeiro e Setembro deste ano, divulgou esta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (equivalente ao Instituto Nacional de Estatística português). Trata-se da maior contracção consecutiva registada num ano desde que aquela agência de estatística começou a contabilizar esses dados, em 1996.

Os resultados negativos do terceiro trimestre de 2015, que registou uma queda de 1,7% em relação aos três meses anteriores, são piores do que as expectativas dos economistas, que esperavam uma retracção de 1,2%. A contracção é ainda maior – um recuo de 4,5% do PIB – quando se comparam os resultados do terceiro trimestre de 2015 com o mesmo período do ano passado.

O Ministério das Finanças brasileiro disse num comunicado que o resultado negativo “veio abaixo do esperado”, referindo que o desempenho do PIB tem sido afectado pela incerteza de natureza económica e não económica que persiste há vários meses no Brasil”, além de factores como “a queda dos preços das commodities” (matérias-primas) e o “fraco nível da actividade económica mundial”.

A desaceleração da economia brasileira é a mais acentuada entre 41 países que já divulgaram os dados do PIB referentes ao terceiro trimestre de 2015. O resultado é mais notório por acontecer num período em que boa parte da economia mundial cresceu, nota o jornal Folha de S. Paulo: dos 41 países, 35 tiveram um crescimento ou permaneceram estagnados (caso de Portugal). No grupo de países cuja economia encolheu encontram-se, além do Brasil, a Grécia, Dinamarca, Japão, Estónia e Taiwan.

As perspectivas não são auspiciosas. A taxa de inflação atingiu os 10% pela primeira vez desde que o Partido dos Trabalhadores (PT) chegou ao governo, em 2003. O desemprego, que há muito estava em queda e que se manteve abaixo dos 5% durante a maior parte de 2014, aumentou para 7,9% em Outubro. As taxas de juro são elevadas, para controlar a inflação, mas o crédito fica mais caro. Diante deste quadro, o consumo das famílias brasileiras, que durante muito tempo impulsionou o crescimento da economia e representa aproximadamente dois terços do PIB, tem vindo a cair consecutivamente ao longo do ano. No terceiro trimestre de 2015, os gastos dos brasileiros contraíram 4,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Entre o final de 2003 e 2014, o consumo das famílias brasileiras crescia sem parar.

Mesmo com a desvalorização do real em relação ao dólar, o que em teoria deveria beneficiar as exportações, estas caíram 1,1%. A agricultura, que sempre compensou o desempenho negativo de outros sectores, também caiu 2,4%.

O cenário no sector da construção civil é ainda pior: no terceiro trimestre de 2015 recuou 6,3% em comparação com igual período do ano passado. A crise neste sector está ligada à redução dos gastos do Governo e às investigações da Operação Lava-Jato, que levaram à detenção dos directores e donos das maiores empresas de construção do país, acusados de subornar funcionários da empresa pública Petrobras.

A crise política no Brasil também está a contribuir para a crise económica. A Presidente Dilma Rousseff, debilitada por insistentes tentativas de impeachment, tem tido dificuldades em conseguir que um Congresso hostil aprove as medidas de austeridade fiscal que, segundo o seu ministro das Finanças, Joaquim Levy, servirão para meter as contas públicas em ordem e relançar a economia.

Enquanto a maior parte dos observadores fala de recessão, o diagnóstico do principal analista do grupo Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, é de que o Brasil entrou numa depressão. “O que começou como uma recessão fomentada pelas necessidades de ajustamento de uma economia que acumulou grandes desequilíbrios macroeconómicos está agora a transformar-se pura e simplesmente numa depressão”, escreveu num relatório esta terça-feira, segundo a Bloomberg.

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