O "rei dos ciganos" chegou ao topo

Tyson Fury acabou com o reinado de Wladimir Klitschko na categoria de pesados. “É o início de uma nova era”, promete o irreverente britânico. Ucraniano quer a desforra.

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ROLF VENNENBERND/AFP/DPA

Dependendo do ponto de vista, Tyson Fury pode ser um palhaço simpático ou irritante. Um fala-barato genuíno, ou apenas uma construção para as de televisão. Mas já não podem dizer que ele é inofensivo. O gigante britânico acabou anteontem com o domínio de Vladimir Klitschko na categoria de pesados, com um triunfo por decisão unânime dos juízes que lhe entregou o título de campeão mundial da categoria atribuído por quatro organizações diferentes (WBA, WBO, IBF e IBO).

Depois de meses de tiradas coloridas e comportamentos excêntricos, Fury mostrou no ringue que é bem mais que um número de circo, que é um pugilista com substância. Em Dusseldorf, perante mais de 50 mil pessoas, foram 12 assaltos não muito espectaculares, sem que nenhum dos dois fosse uma vez ao chão. Fury foi, simplesmente, mais consistente. Acertou mais golpes e defendeu-se melhor, enquanto Klitschko foi menos agressivo e só tarde demais é que tentou chegar ao KO, já que dificilmente iria vencer por pontos, apesar de estar em ambiente familiar – Klitschko vive e treina da Alemanha.

“É o início de uma nova era. Vou ser o campeão mais carismático desde Muhammad Ali. Trabalhei seis meses para isto e é um sonho tornado realidade”, disse Fury após o combate. Depois, aproveitou que tinha público e um microfone da mão para cantar “I Don’t Want to Miss a Thing”, dos Aerosmith, dedicando a música à mulher Paris, que está grávida do terceiro filho do casal. Fury também dedicou uma palavra ao campeão vencido, ele que antes havia dito que Klitschko tinha “tanto carisma" como as suas cuecas: “Vlad, és um grande campeão, obrigado por esta oportunidade. Sabes que era só uma brincadeira. Queria parecer confiante, novo e irreverente.”

Para trás fica, assim, uma década de domínio do mais novo dos irmãos Kltischko, mas o ucraniano já disse que quer a desforra, tal como prevê o contrato. “Preparei-me bem, mas a minha velocidade não apareceu e eu não esperava que ele fosse tão rápido”, afirmou o ucraniano de 39 anos, que já não perdia um combate desde 2004 e que, nos últimos nove anos e meio, defendera com sucesso o título mundial em 19 combates. O seu registo como profissional continua, no entanto, a ser impressionante: 64 vitórias em 68 combates, 53 por KO.

Com o inesperado triunfo frente a Klitschko, Tyson Fury tornou-se no oitavo pugilista britânico a conquistar um título mundial de pesados, o primeiro desde David Haye, em 2009, mas ainda lhe falta mais um título para igualar o seu compatriota Lennox Lewis, que deteve todos os cintos de campeão em simultâneo – falta a Fury o título do World Boxing Council (WBC), que está na posse do norte-americano Deontay Wilder, mas esse combate para unificar os títulos não parece que vá acontecer tão cedo.

O “rei dos ciganos”
Nove anos depois de se ter tornado profissional, Fury, um gigante de 2,06m de altura, está no topo da categoria mais mediática do pugilismo, ele que vem de uma família muito ligada à modalidade. O seu nome tem inspiração directa de um dos grandes campeões das últimas décadas, o norte-americano Mike Tyson, de quem o pai, John Fury, também um antigo pugilista, era um enorme admirador. Mas também foi baptizado assim porque mostrou que era um lutador desde o dia em que nasceu, três meses antes do tempo, e com apenas meio quilo de peso.

Tyson Fury é descendente dos “Irish Travellers”, uma comunidade nómada de raízes irlandesas (e com grande tradição no boxe e em combates de mãos nuas), embora ele próprio nunca tenha vivido de forma itinerante. A sua família estabeleceu-se no norte de Inglaterra, em Manchester, onde nasceu, a 12 de Agosto de 1988, mas ele abraça a sua herança, autoproclamando-se o “rei dos ciganos”. Começou a praticar boxe aos 10, chegou a profissional aos 19 e, nesta condição, ainda não perdeu qualquer combate – 25 vitórias, 18 por KO.

Fury é um católico devoto e homem de família, mas faz questão de ser um personagem memorável, e não apenas pelo que faz com os punhos . Numa conferência de imprensa de promoção do combate, por exemplo, apareceu com vestido de Batman e combateu um homem mascarado de Joker, mesmo à frente de Klitschko. Num dos últimos treinos, deu uma primeira amostra da sua faceta “crooner”, ao cantar uma balada celebrizada por Bette Midler, “Wind Beneath My Wings”. Também ficou famoso, embora não da forma como desejava, ao atingir-se a si próprio durante um combate – o vídeo está no Youtube e tem mais de dois milhões de visualizações.

A partir de agora, Fury é famoso por direito próprio, por ter sido o responsável inesperado pela queda (temporária, ou não) de um dos maiores pugilistas de todos os tempos. Como dizia o pai em declarações à BBC: “Ninguém acreditava. Só eu, o Peter [treinador e tio] e o irmão. Mudámos o mundo. Ninguém acreditava que o Titanic fosse ao fundo. Mas foi.”

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