Quem é quem: um guia dos interesses nas negociações climáticas

Como os países se posicionam na busca de um acordo para travar o aquecimento global.

Com 196 países na mesma sala, chegar a um acordo nas negociações climáticas das Nações Unidas é uma dor de cabeça, ainda mais porque as decisões têm de ser aprovadas por consenso. Eis alguns dos principais protagonistas e o que levam na bagagem para Paris.

Estados Unidos
Obama tornou-se num líder climático, invertendo a imagem dos EUA como força de bloqueio. Em Copenhaga, promoveu a solução agora em vigor, em que são os países a dizer o que vão fazer, e não a ONU a impor metas. Em 2014, deu as mãos à China. E tem compromisssos concretos de redução do CO2. Obama quer um acordo em Paris que prescinda da sua ratificação pelo hostil Congresso, que nunca o faria.

Contribuição: reduzir as emissões em 26-28% até 2025, em relação aos níveis de 2005

China
A China sempre se escudou no grupo dos países em desenvolvimento para evitar compromissos, enquanto crescia em ritmo galopante. Agora rendeu-se à evidência de que tem a segunda maior economia do mundo, é o principal emissor global de CO2 e precisa de acabar com a poluição. De mãos dadas com Obama no clima, o Presidente Xi Jinping faz de Paris um palco para a China na diplomacia ambiental.

Contribuição: reduzir as emissões por unidade de PIB em 60-65% em relação a 2005, até 2030. Atingir o pico de emissões nessa data, ou antes, e depois comear a baixá-las.

União Europeia
Ensombrada pela dupla EUA-China, a UE advoga agora o papel de lider “pelo exemplo”. Mas a sua ambiciosa política climática nunca foi suficiente para convencer o mundo a seguir o mesmo caminho. A UE quer em Paris um acordo vinculativo, com reforço progressivo da sua ambição. Vai aplicar aí a sua influência e as boas pontes que tem com os países mais pobres. Mas tem as suas próprias divergências internas.

Contribuição: redução das emissões em pelo menos 40% até 2030, em relação a 1990.

França
A grande missão de François Hollande é evitar que Paris repita o fracasso de Copenhaga em 2009. Mas o Governo preparou tudo ao milímetro, mobilizando a sua potente máquina diplomática em todo o mundo, e é grande a possibilidade de um acordo.

Contribuição: incluída na da UE

Polónia
A Polónia vai a Paris com um governo recém-eleito que quer rever a política climática europeia. O país depende do carvão para 90% da sua electricidade. Pode ser uma pedra no sapato da unidade europeia nas negociações.

Contribuição: incluída na da UE

Portugal
António Costa vai estar em Paris na abertura da cimeira. Mas como a UE responde como um bloco, Portugal não terá grande protagonismo. A delegação portuguesa integra técnicos experientes em cimeiras do clima, empresários e organizações não-governamentais.

Contribuição: incluída na da UE

 

Índia
Com um sexto da população do mundo, mas apenas 6% do consumo energético global, a Índia conta com o carvão para o seu futuro – tal como o fez a China. Em 2040, metade da energia primária consumida no país virá deste que é o mais poluente dos combustíveis fósseis. É natural que se coloque muito mais na defesa em Paris, do que outros dos seus parceiros entre as economias emergentes.

Contribuição: reduzir as emissões por unidade de PIB em 33% a 35% até 2030, em relação a 2005

Brasil
Das grandes economias emergentes, o Brasil foi quem apresentou a contribuição mais ambiciosa para a luta climática. Promete reduzir as suas emissões em termos absolutos no curto prazo, e não em relação à trajectória normal ou ao PIB, como México, África do Sul, Índia ou China. Em 2009, Lula da Silva prometeu até ajudar os países mais pobres. Agora, Dilma Rousseff tem um problema: o país está em recessão.

Contribuição: reduzir as emissões em 37% até 2025, em relação a 2005, e 43% em 2030.

Rússia
Puttin chega com um espinho na garganta: as limitações à venda do seu “ar quente” – créditos pela enorme redução de emissões nos países do Leste europeu nos anos 1990,  dados como moeda de troca para que aceitassem o Protocolo de Quioto. Há três anos, foram porém impostas restrições à sua venda. E a UE, seu potencial comprador, já disse que não os quer. A questão pode de alguma forma reemergir em Paris.

Contribuição: redução das emissões em 25% a 30% em relação a 1990, até 2030.

Arábia Saudita
Sempre levantou obstáculos, em favor da sua indústria petrolífera. Mas o seu consumo de energia disparou e, com ele, a demada interna de petróleo, em detrimento das exportações. O país começa a sentir a necessidade de mais renováveis ou combustíveis limpos. Isto poderá eventualmente moderar o seu posicionamento, mas não deverá provocar alterações radicais.  

Contribuição: alcançar até 2030 uma redução anual 130 milhões de toneladas de CO2, mas desde que se garanta o crescimento do país, com exportações de petróleo.

Venezuela
Tem tido uma presença vociferante e ideológica nas cimeiras climáticas, juntamente com os outros países da Alba – a Aliança Boilvariana para os Povos da Nossa América, criada por Hugo Chavez e Fidel Castro em 2004. Mas Nicolas Maduro não possui o magnetismo do seu antecessor e enfrenta uma profunda crise interna, política e económica. Vai a Paris enfraquecido.

Contribuição: até 27 de Novembro ainda não tinha apresentado

Maldivas
Estão na presidência do grupo AOSIS, a aliança dos pequenos estados insulares, que defende uma limite de 1,5ºC do aumento máximo da temperatura global até ao final do século. Com 2ºC, a meta acordada internacionalmente, muitas ilhas hoje habitadas podem desaparecer sob o mar, incluindo várias das 1190 que compõem as Maldivas.

Contribuição: reduzir em 10% o aumeno das emissões até 2030, ou 24%, se houver ajuda financeira internacional

Butão
O pequeno Butão chega a Paris com a fama de exemplar: já é neutro em carbono. As suas emissões brutas de CO2 são baixas, equivalentes às de uma fábrica de cimento. Mas as suas florestas absorvem tudo. O saldo final até é negativo. O país quer manter tudo como está.

Contribuição: manter-se neutro em carbono

 

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