Oposição interna do PS critica PR por deixar direita fora dos compromissos internacionais

Eurico Brilhante Dias adverte que o “cumprimento do Tratado Orçamental é uma responsabilidade que não é só do governo”. Mas não levanta reservas à "clarificação formal" pedida por Cavaco Silva a António Costa.

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Eurico Dias Filipe Arruda

A oposição interna do PS discorda profundamente que o Presidente da República exija ao PS que “todas as soluções em termos de compromissos internacionais ao longo da legislatura tenham de ser encontradas apenas com o Bloco de Esquerda e o PCP”, deixando de fora os partidos da direita.

“O cumprimento do Tratado Orçamental é uma responsabilidade que não é só do governo. Não é só com os seus parceiros que [o PS] tem que garantir a estabilidade governativa e o cumprimento dos acordos internacionais”, contrapõe o deputado Eurico Brilhante Dias, que integrou a direcção de António José Seguro.

O deputado adverte que, o que “não pode acontecer nestas circunstâncias, é que o Presidente da República exima o PSD e CDS de serem parte da solução durante a legislatura, até porque esses compromissos estão dependentes de circunstâncias que venham a ocorrer  internacionalmente”.

Em declarações ao PÚBLICO, Eurico Brilhante Dias não levanta reservas à “clarificação formal” exigida esta segunda-feira pelo Chefe de Estado ao secretário-geral do PS relativamente aos acordos a que chegou com os partidos à sua esquerda para assegurar um governo estável, mas lamenta que o ónus seja colocado exclusivamente nos ombros de António Costa.

“O Presidente da República acaba a mensagem a dizer que o PS tem de ter uma maioria para a investidura e para aprovar o Orçamento do Estado para 2016, mas também para assegurar, desde já, todas as condições de cumprimento dos compromissos internacionais, não sabendo nós quais as condições desses compromissos ao longo da legislatura”.

Esta segunda-feira, o Chefe de Estado apresentou ao secretário-geral socialista um conjunto de exigências relativas aos acordos com a esquerda que, para Cavaco Silva, “suscitam dúvidas quanto à estabilidade e à durabilidade de um governo minoritário do Partido Socialista”. Essa “clarificação”, conforme foi assumida num documento escrito entregue a António Costa, está relacionada com um conjunto de questões políticas que o Presidente considerou estarem “omissas” nas posições conjuntas assinadas entre PS, BE, PCP e Verdes.

 Manifestando o desejo de que o Presidente indigite “o mais rapidamente possível” António Costa como primeiro-ministro, o deputado socialista defende que o “partido faça uma reflexão profunda” sobre as razões que estão por detrás da derrota nas eleições legislativas de Outubro. “É uma reflexão que faremos depois de António Costa ser empossado e das eleições presidenciais e para ela estão todos convocados”, afirma.

Um outro elemento do grupo dos críticos dá conta das dúvidas quanto às intenções de Cavaco Silva e diz com ironia “que é preciso tirar um curso para entender o que ele pretende”. “Sempre achamos que o Presidente não tinha vontade nenhuma de dar posse a um governo do PS e as reservas que está a levantar dão nota disso mesmo”, conclui o ex-deputado Ricardo Gonçalves, revelando que a decisão de pedir esclarecimentos a António Costa “lançou uma enorme confusão sobre o que vai acontecer”.

Declarando não entender por que é que Cavaco pediu a Costa garantias em relação, por exemplo, ao Tratado Orçamental e outros assuntos europeus, quando - refere - se “tratam de matérias que fazem parte do ADN do PS”, Ricardo Gonçalves reafirma o seu ponto de vista, vincando que o “PS sempre foi um partido europeísta”.

E acredita que, esclarecidas as questões colocadas ao secretário-geral do PS, possa haver “finalmente um governo que governe, porque é isso que o país precisa neste momento”.

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