“Unicórnio” do fundador do Twitter a galope na bolsa

A Square tem ajudado a alimentar o debate sobre a eventual sobrevalorização de startups.

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Jack Dorsey frente à Bolsa de Nova Iorque Lucas Jackson/AFP

A Square, uma empresa de pagamentos móveis criada pelo co-fundador do Twitter Jack Dorsey, continua a acelerar em bolsa, depois de ter disparado na estreia. A subida, porém, reflecte o facto de a oferta inicial de venda ter sido feita a um preço bastante abaixo do que fora antes indicado.

A entrada em bolsa da Square está a ser seguida com atenção, numa altura em que surgem dúvidas sobre a possibilidade de algumas startups terem sido sobrevalorizadas pelos investidores de risco. A discussão tem surgido especialmente em torno dos chamados “unicórnios” – as empresas cuja valorização, calculada a partir do preço do capital vendido a investidores, ultrapassa os mil milhões de dólares. Entre as companhias neste patamar está uma de raiz portuguesa: a Farfetch, fundada por um português e com sede em Londres- É uma loja online de moda, que na última ronda de investimento, feita este ano, angariou 86 milhões de dólares, que valorizaram a empresa em mil milhões.

Inicialmente, a Square ponderou vender as acções na oferta pública inicial num intervalo entre os 11 e os 13 dólares por acção, mas acabou por fazê-lo a nove dólares. Com base neste preço, a capitalização ficava abaixo da valorização atribuída pelos investidores quando entraram no capital da empresa, embora parte da discrepância seja explicada pela forma diferente como são contabilizadas as acções na entrada em bolsa e nas contas dos investidores de risco.

Na quinta-feira, no final da primeira sessão na Bolsa de Nova Iorque, a cotação fechou nos 13,07 dólares, um pouco mais do que o topo do intervalo de preços em que a empresa tinha considerado e 45% acima do preço da oferta inicial de venda. A meio da tarde desta sexta-feira, as acções subiam cerca de 4%.

"Este género específico de empresa, estes uinicórnios que têm estas valorizações malucas, vamos vê-las a tornarem-se mais conservadoras nos seus preços", comentou o analista Ken Polcari, citado pela agência Reuters. 

Este tem sido um ano calmo nas bolsas no que diz respeito à estreia de empresas de tecnologia. De acordo com números citados pelo jornal Wall Street Journal, só 11% das entradas em bolsa até Setembro tinham sido de empresas tecnológicas. A Uber, por exemplo, uma das startups mais valorizadas, já disse várias vezes que não planeia dar esse passo tão cedo.

O fenómeno também se sente deste lado do Atlântico. O Deezer, um serviço de transmissão de música concorrente do Spotify, tinha anunciado no final de Setembro a intenção de ser uma empresa cotada, mas acabou por desistir, justificando a decisão com as difíceis condições do mercado. Já a Showroomprivé, uma empresa francesa de venda de roupa online, viu as acções afundaram no primeiro dia de transacções, no final do mês passado. A cotação ainda não recuperou para o preço da oferta de venda inicial.

Sem lucro
A Square, cujas receitas estão a crescer mas que ainda não deu lucro, desenvolveu um pequeno aparelho que pode ser inserido na abertura para auriculares dos telemóveis e que serve para ler cartões bancários, permitindo que sejam feitos pagamentos.

O conceito de pagamentos móveis é um sector para o qual empresas de cartões (como a Visa e a Mastercard), a banca, operadores de comunicações e fabricantes de telemóveis, bem como várias startups têm vindo a desenvolver produtos, embora o interesse dos consumidores nas economias mais desenvolvidas ainda seja reduzido (em África e no sudeste asiático, os telemóveis são um componente essencial para transacções, frequentemente substituindo ou complementando os bancos).

No ano passado, a empresa anunciou um serviço de empréstimo de dinheiro a pequenos negócios, desenhando uma estratégia que assenta em oferecer vários tipos de serviços a estas pequenas empresas.

A Square foi lançada no início de 2009, pelo criador do Twitter que recentemente voltou à rede social para assumir o papel de presidente executivo, cargo que passou a desempenhar nas duas empresas. No Twitter, Jack Dorsey tem a tarefa de tornar lucrativo um negócio que tem mais de 300 milhões de utilizadores, mas que acumula perdas. 

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