Face à barbárie

Temos que ser capazes de uma firmeza severa. Mas sem transpor nunca a fronteira do respeito pelos nossos valores.

Face à barbárie dos miseráveis ataques terroristas que tiveram lugar em Paris a primeira coisa que quero fazer é citar Churchill em 1940. Num dos momentos mais negros da história da Europa e do mundo, face à barbárie da Alemanha nazi:”

“We shall fight in France, we shall fight on the seas and oceans, we shall fight with growing confidence and growing strength in the air, we shall defend our island, whatever the cost may be. We shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills; we shall never surrender.”

Nós nunca nos renderemos!

É, pelo menos desde 11 de Setembro de 2001, uma guerra. Mas está longe de ser uma guerra “convencional”. Bem pelo contrário. Há mesmo que reconhecer, citando outra grande figura do século passado, Charles de Gaulle, que já perdemos uma, ou mesmo várias, batalhas, mas não podemos perder a guerra. É, na minha opinião, sobretudo uma guerra pelos nossos valores. Pelos valores que curiosamente nos vieram da França, da revolução francesa. Que se mantem profundamente atuais: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Temos que ser capazes de uma firmeza severa. Implacáveis, duros, para com os assassinos extremistas e os fundamentalistas religiosos. Sem a menor hesitação. Mas sem transpor nunca a fronteira do respeito pelos nossos valores. Sem Guantanamos, sem prisões clandestinas, sem recurso à tortura. Honra seja ao Presidente Obama pelo seu exemplo claro.

Qualquer cedência, nesta matéria, será uma vitória para os extremistas. O ódio não se pode impor ao respeito pelos direitos fundamentais.

Não devemos confundir o delírio assassino do fundamentalismo terrorista religioso muçulmano com o Islão. Pode ser difícil fazer esta separação, sobretudo tendo em consideração os acontecimentos recentes mas, na minha opinião, é crucial. Sob pena de agravarmos uma situação já extremamente difícil.

Podemos compreender e desejar que se encerrem locais onde se incita à violência e ao ódio. Não podemos é defender a expulsão de cidadãos nacionais da União Europeia. Nascidos em países da União Europeia. Pergunto-me mesmo para onde seriam expulsos? E com que consequências? Os que combatem o Estado de Direito devem ser julgados por esse mesmo Estado de Direito.

O caminho tem de ser o da firmeza em paralelo com a abertura tolerante às comunidades diversas. Insistindo também na exigência, lógica e legítima, de reciprocidade por parte dos países do próximo e médio oriente. O relativismo cultural não pode ser desculpa para a defesa de princípios contrários à liberdade de expressão e aos mais elementares princípios democráticos.

Não podemos continuar vergados ao peso dos negócios de petróleo. Aí está também, na minha opinião, uma das chaves dos dramas que estamos a viver. Nesta matéria as cedências da Europa, para além de ineficazes, só demonstram uma fraqueza acelerada por décadas de políticas erradas que nos conduziram a este aparente beco sem saída.

A Europa precisa de uma voz política forte e atuante. Os investimentos especulativos e o endeusamento dos ditos  “mercados” fizeram esquecer setores fundamentais. Como afirmou o Presidente Hollande, a segurança deve estar acima do Pacto de Estabilidade.

Nós portugueses temos das melhores, mais capazes e eficazes Forças Armadas do mundo. Pude vê-lo com os meus próprios olhos em vários continentes. Em Africa, em Timor-Leste, no Afeganistão, no Líbano, na Bósnia ou no Kosovo.

Temos Forças de Segurança, a PSP e a GNR, de elevadíssima qualidade. Com provas dadas em Portugal e em diversos cenários de conflito e pós-conflito um pouco por todo o mundo. Temos, é sempre importante não o esquecer, serviços de informações que servem a República com uma discrição e uma eficácia assinaláveis. Que a história dos últimos e conturbados anos demonstra à saciedade. Os seus muitos sucessos, silenciosos, são a melhor prova do seu profissionalismo.

É preciso tirar partido, no plano nacional e internacional, destas mais-valias claras de que Portugal dispõe. Não intrometendo nas questões de segurança e defesa nacional as querelas politico partidárias.

A experiência das Forças Armadas em missões de manutenção da paz, ao serviço da ONU, da NATO, e de outras Organizações Internacionais, é particularmente relevante. A sua atuação vai muito para além de simples ações de patrulhamento ou vigilância. Atuam na reconstrução de infraestruturas, na aproximação entre populações e fações desavindas, na distribuição de bens essenciais ou na formação de pessoal militar estrangeiro.

Esta experiência internacional tem beneficiado as nossas Forças Armadas, também as Forças de Segurança, modernizando-as, permitindo o acesso a novos equipamentos e aumentando os seus contactos com outras realidades. Esta experiência extraordinária beneficia Portugal e os portugueses.

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