Nem esquerda nem sindicatos na manif contra Governo de direita

Movimento15 de Outubro queria apoio dos sindicatos e partidos para exigir a Cavaco que se despache a dar posse a um executivo do PS. Mas só conseguiu juntar 35 pessoas.

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Manifestação "Passos, Portas e Cavaco, nunca mais!" organizada pelo Movimento 15 de Outubro ficou muito aquém das expectativas. Mas "valeu pelo carácter simbólico", defendeu Gonçalo Gomes. Miguel Manso

Foi um início de noite muito sossegado ao fundo da escadaria do Parlamento: nem os sindicatos nem qualquer partido de esquerda acedeu ao apelo da Plataforma 15 de Outubro para se juntarem num protesto contra a manutenção do Governo PSD/CDS e para exigir que o Presidente da República nomeie um executivo do PS.

A partir das 18h, no passeio junto às escadas reuniram-se, no máximo, 35 pessoas, na sua larga maioria jovens, ao lado de uma faixa de alguns metros, pendurada nas grades da polícia, com as caras de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, e a palavra FORA escrita com enormes letras vermelhas. Os pequenos cartazes improvisados em cartão ficaram no chão, assim como outras duas faixas bem enroladinhas. Mas é certo que um dos jovens se esforçou por animar os outros. A dada altura pegou no megafone e lá entoou: “Sai da toca, coelho sai da toca!”, “Nós só queremos coelho à caçador!”, e ainda “Fora, fora, fora já! Vai-te embora Passos, deixa a TAP cá!”.

Gonçalo Gomes, do Movimento 15 de Outubro, que organizou a manifestação, lamentou a pouca afluência, que justificou com a falta de eco do convite. “Contávamos com a capacidade de mobilização que teriam os estivadores, a CGTP, o PCP e o Bloco, se tivessem acedido ao apelo”, disse o organizador, acrescentando que o caso dos atentados em Paris acaba por “absorver tudo, até a situação nacional”.

"Convocamos todos os trabalhadores, desempregados e pensionistas para uma manifestação em frente ao Parlamento para correr de vez com a direita. Apelamos à participação da CGTP, de sindicatos independentes, como os estivadores, assim como dos movimentos sociais e de todos os indignados. É hora de a nossa indignação voltar a rebentar na escadaria de S. Bento! Passos, Portas e Cavaco, nunca mais!", lia-se na convocatória da manifestação. "É preciso voltar às manifestações explosivas em frente ao Parlamento para assustar o poder, como em 2012 foi feito contra a TSU", dizia.

O objectivo era “dizer ao Presidente da República que esta situação não pode continuar ad eternum, com o país sem Governo. Até quando o país vai continuar refém de o Presidente querer manter à força PSD e CDS no Governo?”, questiona Gonçalo Gomes. “O PR deve dar posse ao PS por ser a solução saída do Parlamento e o PS deve cumprir o seu programa”, defende o activista.

PCP e Bloco sentados à espera de Cavaco
Sentir-se-ão os partidos de esquerda constrangidos em vir para a rua exigir ao Presidente que lhes dê o poder? Gonçalo Gomes não vê razões para isso. Dizerem que chegaram a um acordo à esquerda “é bom, mas não chega”. “É necessário virem para a rua dizer isso, convocarem as pessoas. Não se entende o porquê de não estarem a fazer mais. Além de ser do interesse deles, é do interesse do país”, vincou o activista.

PCP e Bloco “estão sentados à espera que o Presidente algum dia resolva fazer alguma coisa porque não há prazos. Enquanto [Cavaco Silva] faz e não faz, o país continua parado, com um Governo de gestão, quando não há necessidade disso. Devia ser responsabilidade deles exigir que o Presidente da República se mexa", insiste.

A mobilização nas redes sociais – 300 pessoas disseram no Facebook que iriam à concentração, 500 tinham dito talvez, segundo Gonçalo Gomes – acabou por não se materializar em pessoas na rua, mas o organizador defendeu que a iniciativa vale pelo simbolismo e “não tira força” à questão essencial: exigir que o Presidente faça alguma coisa e depressa.

“Simpatize-se ou não com a alternativa apresentada, é a que existe. É suposto cumprirem-se as leis da República” diz Gonçalo Gomes que olha para o calendário e lembra a actual viagem do Presidente à Madeira: as eleições foram há quase mês e meio, o Governo foi chumbado há uma semana, a alternativa existe, o Presidente não diz nada nem há previsão para o fazer.

“Cavaco Silva está a brincar com o fogo porque é ele quem está a criar instabilidade com o seu discurso e com a sua demora. No discurso disse que ia haver instabilidade se não houvesse um Governo, então agora ao não se despachar a nomear um Governo é ele o foco da instabilidade”, acusa Gonçalo Gomes.

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