Que Europa sobreviverá a Paris?

Os ataques em Paris confirmam a globalização do terror do autoproclamado Estado Islâmico

A Europa sofreu o pior ataque terrorista desde os atentados de Madrid em 2004, que mataram 191 pessoas. E a França, que ainda se recompunha do terror dos ataques de Janeiro ao Charlie Hebdo e a um supermercado kosher, volta a chorar pela vida de 129 pessoas; muitas das quais perderam a vida numa sala de espectáculos a apenas poucas centenas de metros da redacção do jornal satírico.

Não foi preciso esperar muito para que a autoria dos ataques fosse reivindicada pelo autoproclamado Estado Islâmico (EI), cujo objectivo maior é provocar um medo bárbaro e medieval numa estratégia que parece ser a de globalizar o terror; há duas semanas reclamaram a responsabilidade pela queda do Airbus da russa Metrojet que transportava 217 passageiros e há três dias pelo atentado que matou 37 pessoas em Beirute.

Há duas grandes questões que se levantam novamente. A primeira é saber como combater eficazmente o EI. Os bombardeamentos aéreos da coligação liderada pelos EUA na Síria e no Iraque já provaram ser ineficazes e é preciso uma acção concertada para passar à fase seguinte. Que sejam “botas no terreno”, se tiver de ser. É fácil de dizer, não será tão fácil de fazer dada a total falta de sintonia até agora com a Rússia para delinear uma estratégia concertada para a região.

A segunda grande questão é saber que Europa sobreviverá aos atentados de Paris. Uma Europa de fronteiras fechadas, em que Schengen será apenas uma breve referência nos livros de história? Uma Europa invadida por um “tsunami de ódio contra os muçulmanos”, como dizia neste sábado ao The Guardian Nadir Kahia, líder de uma comunidade islâmica em Paris? Uma Europa que vai ganhar uma fobia maior contra os imigrantes e refugiados?

Depois dos ataques em Paris, a Polónia veio imediatamente dizer que já nem queria ouvir falar mais do sistema de quotas de refugiados. E o facto de ter sido encontrado no corpo de um dos terroristas um passaporte sírio de alguém que entrou na União pela Grécia, rota que tem sido usada por milhares de refugiados, vem agravar ainda mais o sentimento. Um medo que tem sido aproveitado por esta Europa fora pelos partidos populistas e xenófobos (como a Frente Nacional em França), que querem enterrar de vez o grande projecto europeu.

Se for essa Europa a sobreviver aos ataques de Paris, é porque os terroristas venceram. Há 11 meses, neste mesmo espaço, orgulhávamo-nos das mensagens que eram ostentadas em cartazes, T-shirts e bandeiras numa marcha em Paris a seguir aos ataques ao Charlie Hebdo: “Não em meu nome”, “Tem calma, sou muçulmano, não sou um terrorista”, “As religiões unidas contra o ódio”, “Vivamos todos em conjunto”. Ou simplesmente isto: “Sou humano.” É esta Europa, determinada em combater os terroristas sem tréguas, mas sem nunca renegar os seus valores, que vai sobreviver aos ataques de Paris.

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