Caixas negras do avião russo tiveram paragem "brutal" aos 24 minutos

A possibilidade de que tenha havido uma bomba a bordo do avião da Metrojet que descolou da estância balnear de Sharm el-Sheik é cada vez mais real. Rússia cancelou todos os voos para lá e há mais de 60 mil turistas a precisar de sair dali, muitos mais do que a capacidade daquele aeroporto egípcio.

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No aeroporto de Sharm el-Sheik aglomeram-se os turistas Asmaa Waguih/REUTERS

Tudo corria normalmente a bordo do Airbus A320 da companhia Metrojet que descolou de Sharm el-Sheik no sábado, com destino a São Petersburgo, tanto quanto revelam os registos das conversas dos pilotos como dos instrumentos, até ao 24º minuto de voo. Nessa altura, as duas caixas negras deixaram de funcionar de uma forma brutal, disse fonte ligada à investigação do que aconteceu com o avião à AFP. Isto faz “privilegiar fortemente” a hipótese de atentado.

Tanto a máquina que regista os dados de navegação durante o voo como o gravador das conversas na cabina durante o voo tiveram esta paragem súbita, que é sintomática de “uma descompressão explosiva muito repentina”, diz a agência francesa. Este dado, cruzado com outros, como o de o avião se ter partido no ar, o que aponta para que se tenha verificado uma explosão – ainda de origem desconhecida – e a forma como as vítimas e os destroços ficaram espalhados no solo, fazem os especialistas privilegiar a pista do atentado.

O Governo de Londres tem sugerido de forma que se pode considerar veemente que haveria uma bomba a bordo, possivelmente no compartimento das bagagens. A agência Reuters adiantou que espiões britânicos e norte-americanos interceptaram electronicamente conversações que os fizeram suspeitar de que um engenho explosivo tivesse sido colocado no avião com 224 passageiros russos, matando tripulação e passageiros, no total 224 pessoas.

No entanto, EUA e Reino Unido não dispõem de dados que o demonstrem de forma categórica – não conseguem distinguir se alguém se está a gabar de ter feito o atentado ou a pensar em fazê-lo, por exemplo, disse um analista da televisão norte-americana ABC News – por isso todos aguardam pelas análises químicas ao local da queda do avião e pelo estudo das caixas negras, para poder ter a certeza de que se tratou de um atentado. Mas Washington reforçou a segurança em alguns voos vindos do Médio Oriente, várias companhias aéreas ocidentais cancelaram os vôos para Sharm el-Sheik e está em curso o repatriamento de milhares de turistas de várias nacionalidades.

As autoridades russas mostaram-se inicialmente muito cépticas em relação à possibilidade de se ter tratado de um atentado – embora tenha sido reivindicado duas vezes pelo grupo jihadista Província do Sinai, que jurou lealdade ao Estado Islâmico, que combate o Governo egípcio. Desde sábado, não travaram as viagens de turistas para a estância balnear do Mar Vermelho – mas a atitude de Moscovo mudou nesta sexta-feira.

Putin suspende voos

Vladimir Putin ordenou a suspensão das ligações aéreas entre a Rússia e o Egipto, depois de os serviços de segurança terem considerado que tal medida era aconselhável até que sejam apuradas as causas da queda do avião da Metrojet no Sinai.

A decisão do Presidente russo, que falou na quinta-feira ao telefone com o primeiro-ministro britânico, David Cameron, indicia que Moscovo suspeita igualmente de que o Airbus A320 poderá ter sido alvo de um atentado.

Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, adiantou ainda que Putin deu instruções ao Governo para que defina um mecanismo para retirar os cidadãos russos que se encontram no Egipto, abandonando o cepticismo inicial perante o alarme britânico. Um responsável da associação de agências de turismo russa, citado pela agência Itar Tass, calcula que no país estejam neste momento 45 mil cidadãos nacionais.

Mas a operação de evacuação dos turistas de Sharm el-Sheik não está a ser fácil e promete ser demorada. Só ao fim da tarde desta sexta-feira começaram a chegar os oito aviões com os primeiros dos 20 mil turistas britânicos que estavam na estância balnear e agora aguardam para regressar a casa, numa acção de repatriamento de emergência.

Durante o dia, houve grande confusão no aeroporto de Sharm el-Sheik, com as autoridades egípcias a suspenderem o grande número de aterragens que as companhias aéreas europeias tinham previsto fazer para evacuar os passageiros. Dos 29 previstos, apenas oito foram autorizados. Alguns voos foram derivados para o Chipre, e um foi mandado para trás, quando já estava no espaço aéreo da Albânia.

“Transportar milhares de pessoas num dia é incrivelmente difícil. Todos os passageiros têm de passar pelos procedimentos de segurança”, que foram reforçados nos últimos dias, justificou um porta-voz do Ministério da Aviação Civil egípcio.

Vários países europeus, entre os quais Portugal, desaconselham já visitas à Península do Sinai, bastião do grupo Península do Sinai, jihadistas que em 2014 se aliaram ao Estado Islâmico. Enquanto Mohamed Morsi foi Presidente do Egipto, militantes da Al-Qaeda operaram livremente no Sinai, dizem fontes da segurança, citadas pela Reuters, e o grupo, que então se chamava Ansar Beyt al-Maqdis, chegou a ter 4000 pessoas. Depois do golpe do então general Abdel Fattah al-Sissi (hoje Presidente), que depôs e prendeu Morsi, muitos militantes foram mortos e fugiram para a Síria e Líbia, o que levou à actual ligação ao Estado Islâmico. Mas hoje o grupo é muito mais reduzido, e organiza-se em pequenas células para cometer atentados, diz a Reuters. 

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