Ajudas do Governo não chegaram aos comerciantes atingidos pelas inundações em Albufeira

A câmara vai aprovar, na próxima semana, um fundo de três milhões de euros, para realizar obras públicas. Os empresários da hotelaria e similares preparam-se para concorrer a uma linha de crédito do Turismo de Portugal

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A Câmara de Albufeira poderá avançar com um pedido de “calamidade pública” Filipe Farinha

As promessas de ajuda do Governo para minimizar os prejuízos da cheia em Albufeira não chegaram aos comerciantes. “É lamentável, as verbas dos três fundos [aprovados quinta-feira, em Conselho de Ministros] só se destinam a cobrir os danos públicos”, disse o presidente da Associação de Comerciantes de Albufeira, Luís Alexandre, antes de uma reunião agendada com os deputados do PS eleitos pelo Algarve. Quem accionou os seguros — e há muitos empresários que não tinham cobertura de riscos — está a ficar perplexo com o valor das indemnizações propostas. Ao proprietário de uma moto que custou cerca de sete mil euros, exemplificou, “o seguro ofereceu 150 euros”.

O montante dos danos ainda está a ser apurado, mas os trabalhos de reparação das infra-estruturas públicas estão em curso. O vereador da câmara de Albufeira, Fernando Anastácio, (PS) adiantou que “existe um consenso, a nível partidário”, para a criação de um fundo municipal no valor de três milhões de euros”. A deliberação será tomada na reunião de câmara da próxima semana. O representante da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Júlio Arez, adiantou que, até ao dia 31 de Dezembro, os empresários poderão recorrer a uma linha de crédito, disponibilizada pelo Turismo de Portugal. Por seu lado, o deputado José Apolinário comprometeu-se levar as reivindicações dos empresários às entidades com poder de decisão “para que as ajudas cheguem, também, aos empresários”. Além do Turismo de Portugal, o IAPMEI é outra das entidades a quem se exige uma intervenção no processo para que seja posto em prático um “plano de revitalização das actividades económicas”.

Luís Alexandre concorda com as prioridades que foram definidas no encontro mas voltou a insistir na necessidade de corrigir o que foi mal feito em termos urbanísticos. “As obras da Polis foram uma calamidade”, enfatiza. O secretário de Estado do Ambiente, Pedro Lemos, durante a visita que fez ao local a meio da semana, admitiu que Albufeira possa vir a ser considerada como “zona de risco de inundação”, juntam-se às outras 27 localidades já referenciadas no país, segundo uma lista elaborada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Para que tal venha a suceder é necessário proceder a estudos, mas também algumas medidas práticas — criação de sistema de alarme prévio, bem como “eventualmente, a relocalização de alguns estabelecimentos que estejam em zona de risco”, adiantou. A artéria que hoje se designa por Avenida da Liberdade — uma das mais atingidas — era no passado recente uma ribeira.

A norte da rotunda das Descobertas, a câmara construiu, há seis anos, um passeio ribeirinho, transformando uma linha de água num túnel de cimento. Na altura, a então presidente da Administração da Região Hidrográfica (ARH), Valentina Calixto, mandou embargar as obras por falta de licenciamento. Em causa, detectou a dirigente regional (actual directora do Parque Natural da Ria Formosa), estava o risco das cheias. A obra, adjudicada por 7,25 milhões de euros, disse, poderia “vir a agravar a situação de inundações, que sucedem com frequência na baixa da cidade”. A previsão confirmou-se no fim-de-semana passado. O então presidente da câmara, Desidério Silva (actual presidente da Região de Turismo do Algarve), defendeu a obra como sendo estruturante para o desenvolvimento do concelho e para turismo. Além disso, aludiu, “a água da ribeira não tinha qualidade e a linha de água estava transformada numa lixeira”. Nesse caso, respondeu Valentina Calixto, “o que se deve fazer é tratar a água, não é entubar [a ribeira]”.

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